Antes
de começar o relato, deixo claro aqui, sem orgulho ou demagogia, que nunca
consegui colar numa prova. Preferiria o zero iminente ao risco da vergonha com
o professor e da surra da minha mãe.
Não
faltaram oportunidades para tal, nem no ensino fundamental, no médio e na
faculdade. Fato é que jamais tentei algo ousado, porque minha cara e minhas ações
seriam meus melhores delatores da infração.
E
se eu, cuja dedicação com o estudo nunca foram lá louváveis, não teria coragem
de colar, a fama do meu gêmeo então... Era mais fácil o papa soltar um
impropério durante a Missa do Galo do que o Luciano se envolver em algo escuso
como esse.
Ouso
dizer que a coisa mais condenável que ele tenha praticado fora a vez que ele caiu,
empurrado por mim, e não me desculpou pelo sangue que lhe escorria da cabeça.
O
ano é 1986. No meio de uma prova de Geografia, Cíntia, a amiga real e virtual,
completava as lacunas do saber. O improvável acontece durante os minutos
tensos. Ela não sabe se eu – provavelmente, mas minha memória não me deixaria
esquecer – ou o Luciano, vira-se para ela e pergunta a resposta da primeira
lacuna.
Tensa,
ela responde que o rio que nasce no monte Viso e deságua no mar Adriático é o
Pó. Não se sabe se a pronúncia lhe era ótima ou com sotaque gripado. O pidão
insistiu: “Como?” – e ela: “Pó”, balbuciando de modo tenso e trêmulo. Não se sabe
quantas vezes ela teve de repetir “Pó”. Cabem umas dez vezes até que a resposta
viesse.
Satisfeito
com o acerto, não houve mais questionamentos.
Na
semana seguinte, durante a entrega das notas, o professor chama por mim ou pelo
Luciano e em alto e bom som, declara:
-
Da próxima vez, use um cotonete quando sua amiga te ajudar, porque rio Bó não
existe!
A
sala veio abaixo. Como professor hoje, somente hoje, deveríamos, ou eu ou o meu
gêmeo, saber que os educadores têm ouvidos afiadíssimos. E a lição ficou dada.
Como
eu disse, minha memória é excelente, se coisas amenas não me fogem da
lembrança, tenho certeza de que isso me levaria à vergonha dos infernos e
ficaria marcado para sempre. E como nada
é impossível nesse mundo, quem diria ver um papa soltando um “CAZZO!” no meio
da Missa do Galo...
Francamente...
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