Por
si só, o momento seria único, mas ainda bem que existem talento, sensibilidade,
criatividade e o cinema. Numa produção franco-alemã, de 2008, sob o olhar
feminino de Doris Dorrie – sempre defendo que a ótica feminina sempre é algo
fenomenal, e aqui a direção e o roteiro são dela – CEREJEIRAS EM FLOR é algo
obrigatório para quem ama cinema, flores e a vida.
A
maior parte do filme se passa no Japão, e o mais interessante são os idiomas
que se mesclam. Há alemão, inglês e japonês, porém a linguagem do sensível, do
delicado e da alma não precisa de tradução.
Comecei
a assistir ao filme e percebi a frieza alemã de uma família nada unida, a não
ser pelo casal setentão Rudi e Trudi (desafio a saberem quem é o marido, quem é
a esposa). Os filhos sem tempo aos dois, que têm uma vida pacata e sistemática
longe de Berlim.
Sabendo
que o marido tem pouco tempo de vida, a esposa decide – por um conselho dos
médicos – que façam algo juntos, uma viagem ou algo desse nível. Decidem
visitar os filhos, mas percebem que os rebentos não são mais compatíveis, e os
pais acabam se tornando um peso a eles.
Os
dois decidem então seguir para uma cidade do litoral. A mulher, sofrendo calada
pela iminente perda do marido e amante do Butô, dança japonesa que incentiva a
arrancarmos as nossas máscaras e descobrirmos nossa realidade – passa a
intensificar isso na vida dos dois, procurando extrair o máximo do marido,
incentivando-o a dançar, a viajar, até a assistir a um espetáculo dessa arte.
Quem
sabe uma viagem ao Japão, para ver de perto e - somente com ele - tudo o que
sempre sonhou nos tempos em que ela se dedicou à arte. Mas o pacato e sistemático
esposo prefere a lógica, mantém-se leal a ela, porém sem mais aventuras.
O
que acontece? Prefiro não falar, assistam. A diretora consegue num roteiro tão
primoroso e numa visão tão plástica detalhar a morbidez da vida dos dois no
início do filme, mas a reviravolta que o longa ganha a cada minuto é de uma
surpreendente e marcante mensagem para nossas vidas.
Existem
filmes que podem mudar sua vida, sua maneira de pensar, quebrar tabus ou
sugerir outros, essa produção – sem medo – arrisco dizer que não mudou em nada,
foi melhor, ratificou a certeza de que o medo mata a pessoa, de que o
não-tentar apenas é a sombra nua e parada num escuro.
A
música, as imagens, os sentimentos, a lealdade, coisas que o cinema e a arte
podem nos dar, coisas que a vida tem e que - se não prestarmos atenção nisso –
perderemos a conta de quantos funerais protagonizaríamos numa vida toda.
CEREJEIRAS EM FLOR não merece entrar na vida de todos, deve entrar apenas na
vida de quem quer viver.
Esse é um dos meus filmes favoritos!
ResponderExcluirQuando assisti exerceu um fascínio sobre mim, pois além do desfecho impressionante me apresentou para uma das danças que mais aprecio hoje, o Butô.
Assisti muitos vídeos de grandes mestres, como os do próprio Tadashi Endo que aparece no filme numa performance incrível.
Concordo contigo que é um filme sobre a vida, e o quanto desperdiçamos tempo protelando coisas que deveríamos tentar fazer de uma vez, já que o nosso tempo nesse mundo pode terminar a qualquer momento.
Sonho em aprender a dança apesar da idade e a forma física não ajudarem muito.
É um filme inspirador! E tive a felicidade de assistir um grande espetáculo de Butô ao vivo. Nunca esquecerei.
Obrigada por compartilhar suas impressões Adriano.
Esse tipo que cinema que nos move a divulgar no site e nos podcasts, eu quero que muitas pessoas conheçam!
Um grande abraço :)
Conheci o trabalho de vocês pelo Lucas e achei fenomenal, um elgoio e um apoio vindo de vocês é um fôlego e tanto para seguir comentando sobre filmes sublimes como este aqui! Um abraço!
Excluir