Não havia mais pessoa alguma no restaurante, a não ser
aquele homem, com o mesmo copo de uísque de duas horas atrás, o jornal aberto
na seção de esportes e uma porção intocada de amendoins.
Não se mexia, apenas respirava, apoiava-se na mesa e
deixava que as horas fossem a única companhia da noite. Todas as mesas já
estavam desfeitas, era 1h30 da manhã e o cliente não esboçava qualquer reação.
Poderia virar o copo de uma vez e, em quatro punhados, acabaria com o amendoim,
mas nem isso.
Um garçom se aproximou e tentou um contato visual. Nada.
O caixa estava praticamente fechado. Três dos cincos tendentes já tinham se
trocado e se despediam em voz alta, um incentivo a outros mais saírem. Nada.
Com a aprovação do gerente, os dois restantes foram se
trocar, talvez o clima noir e silencioso fosse a última tentativa antes de o
convite ser feito. Dois mais saíam. Nada. A menina do caixa ligava para o
marido e, em alto e bom som, disse que o expediente tinha se encerrado.
Não se escutou o que o marido disse, assim como nada se
ouviu do cliente, que continuava em silêncio, com os cotovelos sobre a mesa, o
copo de uísque intacto e os amendoins murchando. Quinze minutos depois, a
buzina soou, a mulher saiu, deixando apenas o cliente e o gerente por lá.
Sentiu que a noite ainda seria longa. Pegou o celular,
mandou um sms e mandaria o cliente embora.
Aproximou-se do rapaz, sentou-se e sugeriu uma conversa.
O “tudo bem?” não surtiu efeito, muito menos um “posso ajudar?”. Nada. Ele
continuava imóvel. Resolveu ir direto.
- Senhor, temos de fechar, porque...
O som do sms tocou no mesmo instante que o cliente sacou
do revólver e se matou. O gerente deu um salto para trás e não leu a mensagem
de volta e não soube que o marido da amante talvez estivesse naquele bar. Mostrar a própria fraqueza a quem lhe trouxe desgraça...
Coincidência demais, isso não acontece...
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