E
teria sido apenas uma curiosidade se na manhã seguinte não tivesse acontecido a
mesma coisa. E, para piorar, não se lembrou onde colocou a foto, mas talvez o
sonambulismo fosse seu melhor GPS. Mas por que tudo aquilo? Descobrir-se
sonâmbulo, vasculhar uma foto, a mesma foto? Não titubeou. Pediu para que a mãe
escondesse aquela foto e que ela não falasse o local.
Não
soube se passou o dia mais tenso em resolver as duas coincidências ou imaginar
que uma terceira pudesse acontecer. Saiu com os amigos, mas não bebeu, escolheu
estar bem sóbrio. Chegou em casa e antes de dormir certificou-se de que a foto não
estava por ali e escutou o dever cumprido da mãe.
Na
manhã seguinte, antes mesmo de abrir os olhos, sentiu algo em suas mãos: a
foto. Destino? Não a via há anos, desde o casamento dela. Tinha se mudado para
França. Decidiu arriscar pelas redes sociais e a encontrou. Em menos de duas
horas, soube que estava separada há meses e de volta ao Brasil.
O
encontro não tardou, um café depois do trabalho trouxe momentos deliciosos aos
dois. Quase contou sobre a foto, mas achou piegas e previsível demais.
Calou-se. Com a promessa de um cinema, voltou pra casa. O momento do sono
passou a ser um acontecimento. Não saberia o que pensar se acordasse de novo
com a foto, não saberia o que pensar se acordasse sem a foto.
Em
todo caso, deixou-a no criado-mudo. Na manhã seguinte, sorriu aliviado ao
sentir algo em suas mãos. Não era sonambulismo, era coincidência mesmo e que
poderia esquecer essa curiosidade. Mas não. Não era a foto que estava consigo,
mas o recorte do filme que prometeram ver. Deu um pulo, o coração parecia
sair-lhe da boca.
E
a tesoura? Como leu? Como procurou? Decidiu falar. Não, melhor não. Cada vez
mais certo de que algo mágico acontecia. Seria ela? Mas depois de tantos anos e
de uma pequena paixão que nunca aconteceu? Marcaram o cinema e talvez tenham se
dado as mãos meia hora do final da projeção. Jantaram e se beijaram na porta do
prédio dela.
Os
encontros começaram a ser mais frequentes. Bares, restaurantes, viagens, meses
depois estavam na mesma casa. E, quando fazia as malas para algo definitivo, viu
a foto que iniciou tudo. Teve uma enorme vontade de contar, mas não, porque há
coisas que não devem ser ditas, porque a poesia falaria por si só. Aquele
seria o segredo dele.
Bem
como o segredo da mãe e da repatriada, que já tinham silenciado as
coincidências combinadas entre si.
Dri, adorei!!! =)
ResponderExcluirDri, às vezes o destino é forjar um a nós mesmos... - rs
ExcluirTaí, gostei. ;)
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