E,
pra variar, as personagens encarnando as mesmas personalidades. Luciano, o santo,
Adriano, o pentelho e Marcelo, o cão. Mas aqui o destemido tinha de ser incitado
e todos vão concordar comigo.
Em
1984, estávamos numa tarde em casa. Eu e meu gêmeo na parte de cima da casa, e
o mais velho na sala, desfrutando de sua mais nova aquisição: um LP dos
Scorpions.
Abro
aqui um parênteses, Marcelo tinha um ritual todo especial para escutar rock’n’roll.
Sentava no meio da sala, aumentava o máximo que minha mãe pudesse permitir, até
fazer os vidros fumês de casa tremerem e virava as caixas de som para si,
fazendo uma acústica especial, pelo menos era o que ele dizia.
Enfim,
sabe-se lá por qual motivo, eu e o Luciano começamos uma briga, mas a certeza é
que ele deveria ter razão e eu era o culpado. E os afagos vieram com ataques de
chinelos um no outro. Adorávamos as miras e a disputa começou, não sei quem
acertou mais, sei apenas que o Luciano conseguiu se desvencilhar de mim e
desceu correndo.
Não
tive dúvidas, corri atrás, até o meio da escada e sapequei uma chinelada
estupenda...
...
Em cima do toca-discos, cuja tampa baixada protegeu o LP do ataque, mas não a
ponto de não fazer a agulha pipocar o importado e pular a música.
Tensão...
Eu
olhei aterrorizado àquilo. Os olhos do meu gêmeo se dilataram, primeiro olhando
ao chinelo, depois encarando os do Marcelo e depois a mim. Troquei um olhar
longo com o Luciano e tentei, por segundos, evitar o do mais velho, mas foi
inevitável.
Olhos
vidrados, vermelhos, aterrorizantes. Ele apenas me encarou e disse um
convidativo:
-
Corre...
Juro
que eu estava a uns 5 degraus do topo e sumi. Juro que o Marcelo em três,
exatos três passos quase me alcançou e, em menos de 10 segundos depois, esmurrava
a porta trancada do banheiro. Consegui raciocinar, porque o medo faz isso.
Eu
via a porta rangendo, quase se partindo em pedaços, aos berros de “eu vou matar
você” e eu implorando pela minha vida e pela minha mãe.
Por
sorte o LP ficou intacto. Por sorte as batidas na porta cessaram, por sorte
minha mãe era certeira e os dardos tranquilizantes, exatos 4, fizeram o Marcelo
dormir por umas 10 horas...
Kkkk...sempre me divirto com as suas traquinagens!! Bjs
ResponderExcluirDri, essa aqui quase me custou a vida! - rsss
Excluir