For me formidable embalava o sábado,
uma espécie de requinte e nostalgia, daqueles que qualquer pessoa de bom gosto
sorri. E, de repente, um deles parou e disse:
-
Ouçam isso! – todos pararam – Estão ouvindo? Eu quero ser cremado com essa
música...
Silêncio,
pensaram ser brincadeira, mas os olhos dele estavam num êxtase doce demais para
ser algo lúdico. E não era.
-
Ouviram? Quero ser cremado com essa música ao fundo? Anotaram isso?
-
Mas você não acha que isso é meio cedo para tal?
-
E quando será o melhor momento quando estiver numa cama, sem poder falar
direito ou escrever meu desejo? Anotem, quero ser cremado com essa música.
-
Ao menos você sabe o que diz a letra? Você não sabe francês...
-
Sei pouco, quero fazer falta a todos, amigos e a todas as mulheres do mundo.
Mas, independente de saber a letra ou não, sintam essa música, grandiosa. Quero
ser cremado com ela. Peguem um pedaço de papel, vou escrever e quero que todos
assinem!
Acharam
um absurdo interromperem o jantar e o bate-papo despretensiosos para um assunto
tão fúnebre e descabido. Mas o pedido dele foi tão enfático, que ninguém ousou
abrir a boca. Nunca tinha visto a voz dele assim nem o tom dela.
E
foi o que fizeram. Ele pegou a caneta, enquanto engolia aquele pedaço de pizza
de calabresa, escreveu, leu em voz alta, perguntou se todos tinham escutado.
Depois disso, passou o papel a todos, que assinaram. Logo depois, ele dobrou-o
e deu ao amigo da direita, que assentiu com a cabeça e voltaram a papear com
sorrisos e amenidades.
No
fim da noite, cada um voltou para casa pensativo na atitude do amigo. Pensaram
como seria a morte de cada um. Pensaram até se seriam cremados ou não. E, se
sim, qual música embalaria a cremação.
Concordaram
que ele tinha escolhido bem, FOR ME
FORMIDABLE era maravilhosa, e foi a música que tocou duas semanas depois do
jantar.
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