Tal
qual os dedos estão para as mãos, todos os sentimentos pertencem ao ser humano.
E aqui não precisou menos que dois olhares. O calor lhe subiu do estômago e parou
no peito. Como uma angústia doce a palpitar sonhos.
E
quando o coração grita, a coragem responde. Tomou-se dos dois e seguiu em
frente. Nem percebera que o sorriso era fácil, encantou-se pelo olhar e decidiu
dar-lhe uma flor, aceita de modo tímido.
No
dia seguinte, viu que a flor ainda estava com ela, não titubeou e deu-lhe mais
uma, outro olhar encantador e um beijo pelo ar.
E
foi assim que a alimentou, todos os dias, todas as flores possíveis, de todas
as cores, todos os aromas e todas as formas.
Semanas
depois, ela estava cercada. Uma floreira de matizes rodeava-a por todos os
lados. Todos os caminhos cobriam-lhe de pétalas e adornos. E por lá ficou.
Passou
a regar todas elas, todos os dias, a cada momento, por meses. Incríveis dias
aqueles, incríveis flores aquelas, nenhuma morrera, cada vez mais abertas, cada
vez mais vivas.
No entanto
de tantas flores em sua volta, ela não se mexia. Tomou-se das cores e dos
aromas e por lá ficou. As idas e vindas diariamente dele começaram a lhe cansar os
braços, as pernas e a ocupar um tempo que o deixava escondido a qualquer outra
ação.
Não
sabia se as regava por paixão ou por hábito. Dores e mais dores. Levava água,
e não encontrava de novo onde a buscar. Não conseguia ajuda daquele olhar, ela estava
cercada de muitas flores e preferiu lá se acomodar.
A
água no fim, e o cansaço rasgava-lhe o peito. Ele pediu, mas ela não saiu. E
numa manhã, parou em frente e precisava de água, ela não tinha. Sentou-se na
metade do caminho, sob olhares indecisos. Agachou-se e por lá morreria de sede.
Sentiu
um toque em sua nuca, outro em seus lábios. Sentiu a água a lhe correr pela
boca e depois de alguns goles, abriu os olhos. E antes que pudesse ver o que
viu, desejou ver o caminho de flores aberto a passos, mas não.
Ela
continuava parada olhando-o indecisa, cercada de flores. Não pôde entender,
porém não era mais paixão a trazer-lhe a vida, era amor. Então levantou-se e
seguiu.
Não
olhou para trás, deixou a paixão ali mesmo, estática, a ver as primeiras
pétalas secarem...
Como assim ninguém comentou por aqui? É absolutamente doce e lindo. Parabéns, moço.
ResponderExcluirMuito obrigado, Kell! Excelente uma análise assim!
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