Ao
longo desses meus quase 40 anos de estrada (risos), colecionei momentos
magistrais, fui Freddie Mercury por várias noites, justamente por não ter a
ousadia de escolher a mesma profissão que o líder do Queen.
Ouso
muito agora, imagino Farrokh Bulsara tentando me imitar dando aula... Ok, fui
exageradamente pretensioso. Fato é que nem eu nem ele poderíamos imitar nossas
escolhas. Porém como ele é o ídolo, cabe a mim tentar imitá-lo.
Mas
bem antes de cantar na Long Play Rock, aos 10 anos, fiz minha primeira
apresentação no aniversário de um vizinho. Em 1983, o álbum CREATURES OF THE
NIGHT, do Kiss, alçava voos gigantescos, tanto que os trouxeram para um show
fantástico no Morumbi.
Naquela
noite, fui Paul Stanley, e, com a minha guitarra de brinquedo, embalei a noite
de tios, tias e amigos, fizemos uma dublagem perfeita e aqui eu sabia quais
seriam meus sonhos.
Anos
depois, após embalar as tardes de faxina que minha mãe fazia em casa, com
músicas ao vivo, fazendo duo com a dona Ignes, tive a ideia fixa de cantar as
músicas do Queen. Por que não? Mesmo tom, tentaria alcançar as notas que
somente mister Mercury conseguia.
Foram
horas de sofrimento, horas de apoio vocal, horas de chuveiro. E quando consegui
a primeira, tentei a segunda, a terceira e tive minhas recompensas garantidas.
Ok, ok, era minha mãe que elogiava, mas se o santo de casa fazia milagres, por
que não, né?
Tarde
quente de sábado, 1992, estava eu na sala, janela escancarada. Sol maior e
embalei SOMEBODY TO LOVE. Fechei os olhos e, se George Michael conseguiu uma
apresentação única no show do tributo ao vocalista , eu também poderia fazer esse
tributo da zona leste de São Paulo.
Cantava
para milhares de pessoas, eu, meu violão e um único canhão de luz. Dei minha alma
e todos os tons que pude. Cantava como se fosse a última vez na vida, como se
fosse a única voz do mundo.
Quando
terminei, ouvi aplausos do lado de fora. Tive a certeza de que meus vizinhos foram
lá para apoiar. Não. Eu tinha me enganado. Eram duas mulheres, que se disseram
emocionadas e que foram atraídas pela emoção da minha interpretação.
Eu
agradeci e soube que, por uma única tarde, aqui do Tatuapé, fui
promovido a Freddie Mercury. E até hoje eu nunca consegui achar um vídeo que
seja do líder do Queen dando uma aula de português...
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