Olhava
o relógio, olhava o telefone. Avisou o colega ao lado veementemente que
anotasse o recado as duas vezes que precisou deixar a sala. Ninguém ligou.
Almoçou
em sua mesa. Nada.
E
então o telefone tocou, e o fornecedor percebeu e não pontuou o desinteresse e
a indiferença dos prazos, não entendeu por que, mesmo que pontual, o elogio não
foi ouvido.
14h.
Alguém
perguntou algo, porém foi o colega quem respondeu. Tensão. Perdeu as contas das
vezes que checou para ver se havia linha no telefone. Tudo perfeito.
O
desconforto se espalhou pela sessão. Nem mesmo o chefe tentaria algo.
Mesmo
assim ele tentou, um “tudo bem” tão sinistro que nem o café com a bolacha
recheada que apareceu em sua frente sanara o drama.
15h.
Outro
toque. Engano. Aquela angústia que queimava seu peito conseguia ganhar expressões
bem convincentes em seu rosto. Em três anos de empresa, o comportamento calmo
sumira naquele dia. E de tal forma que ninguém tentou desvendar.
16h.
O
suor já começava a cortar frio o desfigurar do homem. Nem a véspera de feriado
servia-lhe como consolo, tudo o que esperava era o toque certo do telefone. Mas
nada.
17h.
A
planilha continuava aberta no mesmo ponto da manhã. O tempo era seu principal
companheiro. Apenas mais uma hora e ele teria de atender àquele chamado. Teria de
acontecer. Iria tocar.
18h.
Seção
vazia. Não respondeu a ninguém nem mesmo ao chefe. Começou a arrumar as coisas
pausadamente, sem tirar os olhos do aparelho. Só restou sair e caminhar pela
chuva, e os trovões jamais o deixariam escutar as 4 vezes que o telefone tocou.
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