E do gramado sem a beleza das flores? Imaginaram a brisa de primavera não roçar nossa face numa tarde quente?
É o toque. E podemos dizer inúmeros deles, vejam bem: nossa
língua num sorvete de creme... A ponta do nosso dedo no bolo de chocolate, e
depois em nossa boca...
É o toque.
Mas longe disso tudo, no mundo das letras, o toque
também existia. As letras viviam bem juntinhas para formar palavras. Cansaram
de ficar lado a lado e resolveram dar as mãos. Feito crianças quando atravessam
as ruas.
Assim, uma à outra, eram mais fortes e trabalhavam juntas para
informar as pessoas, fazer outras chorarem e outras mais cair de tanto rir.
E numa dessas uniões, várias letras já mais separaram as
mãos. É o caso do ch, que se
conheceram na palavra charme e nunca
mais se desgrudaram. Há
também as almas gêmeas, o ss, que se
conheceram no berçário, na palavra sossego, e até hoje vivem em perfeita
harmonia.
Temos também os casais, lh,
nh, rr e qu, que se apaixonaram em maravilha,
carinho, sorriso e querida para nunca mais se desgrudar.
Há, porém, um casal que ainda não está unido, embora
deseje muito isso. Fora na palavra fascinação
que se conheceram e, desde então, cada vez que se encontram, cada qual passa a
fixar o olhar um no outro, perdidamente apaixonados.
Foram o A e o
C que perceberam o flerte e
acompanham cada passa dos dois. A notícia foi se espalhando até que um dia
todas as letras, casadas ou não, resolveram desmascará-los.
Num dos vários encontros de folga, no período que pessoa
alguma estava lendo, as letras fizeram a pergunta crucial: “O que vocês estão
pretendendo com este namoro?”.
Pego de surpresa, o casal resolveu abrir o jogo e não
esconder o que já estava descoberto.
O alvoroço foi geral, afinal, como podiam traços tão
distintos contrair matrimônio assim?
Ora, nem letras eram, e, só para começar, a Cedilha
vivia grudada no C!
Um abuso aqueles dois! No entanto mal podiam reparar que o coração ficaria mais romântico com o casamento.
E o que falar da emoção! E a música
seria mais melodiosa, se a canção
pudesse abençoar a união! E que dor não seria suportável com a nossa união em injeção!
E só haveria sim na negação!
Com a magia do amor no ar, as letras, casadas ou não,
não poderiam deixar de se contagiar. Porém, eram realistas e, ainda que, agora, torcessem
pelo casamento do par, não poderiam ser elas quem os uniria.
Sabiam que o amor dos dois era maior que o impossível,
mas o toque dos dois talvez não. O que realmente importava era que não
precisavam de pessoa alguma, pois, apesar de separados, quem garante que não
estavam juntos?
Juntos nos momentos mais difíceis e nas horas mais
maravilhosas. Não cabe a nós decidirmos pela felicidade dos dois.
Escritos juntos ou não, o que vale é a proximidade dos
próprios sentimentos.
Por que iríamos nos preocupar com eles? Eles nem se
importam com a nossa preocupação. A Cedilha e o Til unem-se cada vez que
fechamos um livro ou um caderno. Não precisam de ninguém para juntá-los. Apenas
um do outro.
Como posso garantir isso? Ora,
só quem ama sabe dessas coisas.
Pura emoção esse texto, assim como o amor! :)
ResponderExcluirExato, Lu, assim como o amor...
ExcluirQue talento,eu procurei por esse conto ,porque o mesmo ganhou um concurso literário na categoria “lusofono”
ResponderExcluirPaula, boa tarde. Não fui eu que ganhei, foi o livro do Guilherme, uma enorme coincidência de nomes. Apesar de terem o mesmo título, são teores bem diferentes. Mas agradeço pelos elogios.
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