Eu
e meu gêmeo numa época éramos dependentes do Marcelo. Ainda me lembro que,
antes de irmos para a escola, o mais velho liderava as brincadeiras, muitas
vezes interrompidas por causa do colégio.
Eu
e o Luciano passávamos as tardes esperando pela volta dele só pra saber se o
Falcon conseguiria se livrar do King Kong.
Mas
chega um dia em que a diferença de 4 anos já não é mais empecilho ás
brincadeiras. E dentre tantos jogos de tabuleiros, amávamos isso, uma
brincadeira era levada a sério, bem a sério: os campeonatos de jogos de botão.
Os
3 eram tarados, os 3. Acho que quem se entregava a essa modalidade sabem bem o
que é tal seriedade. Treinávamos fundamentos, passes, chutes a gol, efeitos na
palheta etc.
Começamos
a jogar com aquelas pecinhas do War, até viciarmos na bolinha de feltro, que
corria muito.
Os
campeonatos então eram um acontecimento. Mas no número 59, a coisa era mais
feia. O Marcelo sempre foi sedento pela vitória e perder para um dos irmãos 4
anos mais novo seria uma vergonha.
Numa
tarde de sábado, eu e o meu gêmeo jogávamos. O empate dava o título a mim, com
a derrota, o Marcelo, que cronometrava o jogo, seria o campeão. Estava 1 a 1 e
faltavam menos de dois minutos para a partida terminar.
Havia
na cozinha um relógio imenso. E, enquanto eu jogava, contava os minutos. As
regras eram claras. Quando um falava “pro gol”, mesmo que o tempo tivesse
terminado, o chute seria válido.
Chutei
e foi pra fora. Luciano saiu. Dois minutos findados. Eu disse: “acabou”.
Marcelo disse que não. Luciano passou para o zagueiro. Eu disse: “acabou”.
Marcelo continuou a explicar que era ele quem cronometrava.
Eu
sabia que havia acabado e sabia da intenção dele. Luciano passou para o
atacante. Eu disse: “Marcelo, acabou!”. Luciano ajeitou e disse: “Pro gol”.
Marcelo emendou: “Agora acabou, depois do chute”.
Luciano
chutou e gol. CAZZO!!! Eu sabia que isso aconteceria. O mais velho saiu
berrando pela cozinha. Fiquei irado, chorando de raiva.
Ele
estava sem camisa, sentou para arrumar as coisas. As traves eram de plástico e
bem resistentes. Uma delas estava carcomida na ponta. Não tive dúvidas, tomei-a
com fúria e marquei numa risca só as costas do meu irmão, que urrou com o
vergão imenso que saltou com minha investida.
Pra
variar, tomei uma surra da minha mãe, o Marcelo foi campeão injustamente e ainda
estou esperando por uma revanche. Mas ele vive recusando, não sei se pelo
oponente no botão ou se pelo medo com o que posso usar na sua pele.
Meu Deus! Vcs 2 eram um caso sério, heim!?
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