Eu represento algo que nasceu em outro
dia, não o próprio. Sou uma espécie de porta-voz, assessor de imprensa,
representante, vice-presidente, subprefeito, o segundo lugar.
Eu sou a sombra de algo importante. Eu
sou o dia anterior. Eu sou o dia seguinte.
Eu sou o Dia de Ninguém. Nenhuma
revolução. Nenhuma descoberta de cura. Nenhuma eleição. Nenhuma promoção. Nem
sol. Nem chuva. Uns com tantos, e eu com nada. Estou me queixando há séculos. SÉCULOS!
Desde que existo, nada acontece, ninguém nasce em mim.
A partir de agora, como pertenço a
ninguém, comemorarei minhas 24 horas de vida como um mártir de mim mesmo. Sim.
Apareço uma vez por ano, somente nos jornais. Algo raro, como eclipse, cometa.
Algo inovador deve estar reservado a
mim. Algo raro. Um artista fenomenal. A descoberta de uma vacina que cure tudo.
Cure até o caráter das pessoas. Ou o primeiro super-herói de verdade. Ou
melhor, imagine eu, o único feriado de agosto. Ah, seria a glória!
Nem bolo, nem vela você vê em mim. Nem
massacres, guerras, desastres ecológicos, não. Sou uma dança com a irmã mais
velha. Sou uma reunião de condôminos. Sou um brinquedo sem pilha. Sou solo
infértil. Tenho a criatividade de um contador.
Se eu não consigo pensar, então posso
ser o que você quiser. O dia que você encontrou o amor de sua vida. O dia que
você encontrou o emprego da sua vida.
O dia que você ficou milionário. O dia
que você recebeu uma visita incrível e inesperada. É, mas esses dias não entram
para a História do calendário.
Cá estou, pondo-me como aluguel de
datas, de comemorações, aberto ao que você desejar, sonhar. Saia da barriga do
anonimato e venha comigo, coloque-me no calendário das agendas, das memórias
das pessoas! Deixe-me viver!
Transforme o Dia de Ninguém em Dia de
Alguém! Ou simplesmente transforme o dia de alguém.
E nós dois estaremos em vermelho no
calendário de nossas datas.
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