Mas
antes disso, tenho dois irmãos, meu gêmeo, Luciano, aquele irmão odiado, porque
nunca levava bronca, sempre predisposto a ajudar os pais – o que me demandava
tarefas infinitas – e o mais velho. O Marcelo, sempre ele, esteve envolvido em
quase todas as traquinagens de minha infância.
Em
1982, eu e meus 9 anos estávamos no banho, com certeza tentando cantar algo
parecido a THE NUMBER OF THE BEAST. Todo ensaboado e com shampoo Johnson's até
onde se pode imaginar. Não pude crer que as invocações ao demônio pudessem ser
tão precisas e inconsequentes.
Descrever
o banheiro é algo um pouco mais complicado. Azulejos de bolinha azul, vaso
sanitário e lavatório vinho. Pois é, o demônio já habitava o local, a invocação
ficou mais fácil. O box era uma espécie de porta que corria, feita daquele
plástico mais resistente e turvo, o que impedia a visão interna. E aqui reside
o mal.
Sabe-se
lá por qual motivo, meu irmão mais velho quis me dar um susto. Bastava abrir a
porta e pronto. Mas não, nunca saberemos o que se passou na cabeça de uma
criança de 13 anos, que optou pelo improvável.
Enquanto
eu estava na segunda estrofe em aramaico do Iron, pude perceber duas mãos
aparecendo no topo do box. Lentamente, a cabeleira loura do Marcelo foi
surgindo. Ou seja, o susto virou curiosidade mútua. E eu pensando que cazzo ele
queria com aquilo tudo.
Lembro
de o sorriso dele ficar lá por cima por uns 5 segundos. E, de repente, ele
sumiu, junto a um estrondo gigantesco. O pimpão apoiou o pé no lavatório, que
cedeu bruscamente trazendo tudo para baixo, e um deles foi o Marcelo.
O
perigo de ser retalhado foi iminente. Graças ao bom Deus não aconteceu, mas a
retaliação da minha mãe seria inevitável. Com a queda, o cano ficou aberto, e
uma enxurrada avassaladora, um jato potente de água saía do banheiro, batia na
parede do corredor e descia pelas escadas.
Luciano,
o irmão santo, ao ver aquilo começou a berrar: "Cataratas! Cataratas!".
Não
consegui ouvir quais imprecações minha mãe soltou. Só sei que, diante do fato,
fiquei sem água, todo ensaboado, e com o lamento do diabo loiro.
Meu
pai, que tentava abocanhar uma laranja, só teve tempo de fechar o registro. A
água que desceu pela escada, e não foi pouca, parecia um açude furioso, molhou
todos os móveis da recém-comprada mesa e suas cadeiras de tapeçaria estampadas.
Lembro
que meu irmão passou horas secando os móveis como punição, com o secador Arno, rosa. Lembro que a laranja
que meu pai tentou comer ficou para meu gêmeo e a mim, coube encerrar o show no
meio da primeira música.
Sobre
as 3 versões? A minha: nascia ali a primeira manifestação da idolatria do meu
irmão a mim. A do meu irmão Marcelo: quis soltar uma cusparada na cabeça do
caçula. E a real: foi a melhor maneira de nos livrarmos daquele vinho horrível,
o banheiro foi reformado meses depois.
Coitada da sua mãe! Três filhos, cada um com 3 versões, a própria, a do outro e a real. Medo! Ri sozinha com as "Cataratas! Cataratas!" e com você todo ensaboado e sem água. Excelente, Dri!
ResponderExcluirLu, ensaboado, sem água e com o show interrompido! Obrigado pelos elogios!
ExcluirUma correção pertinente, o ano era 1981. Não contarei em detalhes no meu livro, mas esse fato está lá, com a minha versão é obvio.
ExcluirNada como tomar o depoimento do fã, pois até o ano preciso ele sabe! - rs
ExcluirAi meu Deus!!! Sua mãe é uma santa!!!!rsrsrsrs
ResponderExcluirMinha mãe uma santa, Pietra? Santo sou eu, qu conseguia apanhar dela sem ter feito coisa alguma! - rs
ExcluirE o pior é que o banheiro da minha infância não era muito diferente... Por falta das benditas florzinhas mos azulejos, monha mãe os adesivou com contact!!!!!!!
ExcluirRealmente, deve ter ficado uma belezura! - rs
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