Antes
de ouvir, olhou para os olhos vívidos, aqueles que transpiram a ansiedade de
uma boa notícia, daquelas que todos se matariam para falar. Anos naquela
multinacional, anos lidando com pessoas e números, aprendeu a estar atento a qualquer
movimento diferente.
Sentiu
que valeu a pena abdicar de família, amigos. Que a dedicação ao MBA e às horas
de negociações, ao inglês, ao francês e ao espanhol teria enfim um resultado
justo. Viu passarem para dentro todos os diretores, o vice-presidente, e todos
tinham o mesmo brilho nos olhares.
Nos
poucos segundos que esperava pela notícia, lembrou-se de tudo. A dedicação em
forma de sopro, de vento doce e da promessa de que tudo acabaria bem.
Que
os emails de parabéns, de orgulho e de símbolo de empenho à empresa realmente
eram verdadeiros e que o trabalho impecável poderia ser um símbolo de exemplo e
de que a justiça prevalece.
Sentaram-se
ao redor da mesa. Ele na ponta e todos os sorrisos como plateia. Não se sabe
por quanto tempo durou, mas cada frase, cada parte, cada sílaba soava-lhe como
música, um rufar de louros e um soprar de aplausos.
Despesas
com o aluguel em Paris pagas por um ano, a filial francesa nas suas mãos, 150%
de aumento no salário, 10 passagens anuais para o Brasil, um carro, um
cartão-combustível ilimitado, participação nos lucros e uma governanta bilíngue
para cuidar da casa.
Tentou
segurar o choro, mas não conseguiu, e viu que emocionou a todos lá, até o
poderoso. Abriram um champanhe e saíram para almoçar. Ganhou o dia livre para
começar a organizar a mudança, que seria em 15 dias.
Chegou
em casa. Olhou o vazio e só assim viu a realidade. Não tinha para quem ligar e
dividir a notícia. Saiu rapidamente de lá porque soube que levaria todo aquele
nada para França. C’est la vie...
E que saia rápido!
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