Mandou
um sms ao marido, avisando que aquela terceira sexta do mês teria mais do que o
oral anual. Saiu do Jacks’s Zefona com a escova em dia, pintou as unhas de
vermelho-fogo, passou na saldão e comprou uma calcinha G vermelha e de renda.
Na
volta, arriscou o sex shop, ficou
convencida de que o espartilho de couro, com jeito, entraria, mesmo sendo dois
números abaixo. Comprou um filé mignon, parcelou em duas vezes. Não sabia qual
vinho serviria com carne, arriscou num tinto, ainda que os dois litros não
precisassem ser consumidos.
O
marido, mesmo apertado do lotação, sorria um sorriso malicioso, dava pra ver a
língua de fora, no canto esquerdo. Subiu a rua num corre-não-corre, chegou ofegante,
precisou de uns cinco minutos para recuperar o fôlego, quase estragou as
begônias vermelhas, meio caídas, mas honestas à esposa.
O
sobradinho, à meia luz, era um convite. Ela colocou o LP do Ritchie, e MENINA
VENENO, música que embalou o início de namoro dos dois. Ele entrou, conseguia
sentir aquele perfume de alfazema tomado, mesclado com o cheiro da carne e das
batatas.
Sentiu
uma fisgada no baixo ventre. “É hoje que eu vou traçar as portas dos fundos”,
pensou. Chamou por ela, que respondeu um “aqui em cima” mais do que convidativo.
Ele subiu cantando desafinado “Menina veneno, você tem um jeito sereno de ser”.
Ela riu. Ele entrou no quarto, lá estava, toda rubra, pele brilhante, lustrada,
de espartilho de couro, um muffin de vaca branca. Fogosa e saliente.
Ela
estava de bruços na cama. Com as perninhas roliças trançadas para cima.
Balançava-as lentamente para frente e para trás. Com um pouco de dificuldade,
ela se levantou e disse que esperasse na porta. E assim, babando, ele o fez.
Ela chegou perto. Ele quase a agarrou, mas foi contido. “Ainda não, tigrão. Vai
ter que merecer essa sustança toda”.
Ele
sorria um olhar endiabrado, tomado de desejo e prazer. Ela andou até o
corredor. Abriu o espartilho, porque estava quase sem ar e deixou-o sair. O
estilo bigodinho de Hitler era uma novidade, e ele pirou.
“Vem,
meu tigrão, vem pegar sua sereia!” – ordenou, e como um touro, partiu pra cima
dela e a tomou nos braços, erguendo pelas pernas, num replay à entrada
triunfante no quarto de núpcias. Mas a sereia estava mais para um belo e escorregadiço
peixe.
A
brilhante e fixa ideia de entrar naquele espartilho fez que ela usasse mais da
metade do KY em todo o seu corpo roliço. E com o mesmo ímpeto que ele a pegou,
ela escapuliu dos braços dele e rolou os 15 degraus de madeira.
Não
fosse pela demora de achar a carteirinha do convênio, eles tinham chegado ao
pronto-socorro em menos de meia hora. E se alguém comeu da carne aquele dia,
foram os meninos, que disseram nunca terem visto filé tão molhado na vida.
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