domingo, 4 de novembro de 2012

O DIA QUE O MUNDO OUVIU A MINHA MÃE

Como se pontua o exato momento do trauma? Impossível às vezes, mas no meu caso foram cirúrgicos, os dois.

Até hoje odeio comprar roupas, e mais que odiar, odeio experimentá-las na loja. Talvez uma coisa leve à outra, fato é que os pais, sem querer, acabam errando e dão o trabalho direto ao terapeuta para tentar consertar isso.

Creio então que os pais se tornam causa direta de o analista existir.

Tinha uns 6 anos, quando fomos eu, meus irmãos e minha mãe na árdua tarefa de comprar roupas. Asseguro que até então, mesmo que não fosse uma diversão, estava longe de ser um trem-fantasma.

Meu gêmeo e o mais velho resolviam rápido. E, como naquele dia – só pra variar – estava louco para ir embora, resolvi que todas as primeiras peças que me servissem seriam levadas. E as calças apareceram, provei-as e disse sim.

- Mostre-me! – ordenou minha mãe.

E respondi que estavam boas e pedi para ir embora. Em segundos minha mãe invadiu o provador, meteu a mão no cavalo da calça, que sobrou como um saco – sem trocadilho algum – nas mãos dela. Não titubeou, prendeu a mão nos meus fundilhos e me trouxe para fora, falando ao vendedor enquanto me sacolejava como um peão em Barretos:

- Isso aqui ficou bom?! Você acha?!

Meus irmãos caíram na gargalhada, e eu, morto de vergonha, queria uma bomba ninja para sair de lá.

Anos depois, de novo a mesma peregrinação. Ela e os três. Procrastinei ao máximo a minha vez. Mas não demorou para chegar. E dessa vez, minha mãe foi mais rápida, entrou comigo no provador. Na época, eram comuns shorts com sunga, e eu, desgraçadamente estava com um deles.

Assim que chegaram as roupas e tirei a bermuda, dona Ignes, com 1,50 de tamanho e 2,10 de voz, bradou ao mundo de lá de dentro:

- Você veio sem cueca?!!!

E lá dentro eu queria ficar, entre todas as gargalhadas que escutei, a dos meus irmãos foram as únicas reconhecidas. Como eu sairia de lá depois. Bem, acabei saindo e dificilmente volto a entrar.

Posso contar nos dedos as vezes que experimento roupas em loja, porque se a loira do banheiro não existe, a mãe do provador, sim, é viva e me aterroriza até hoje.

  

6 comentários: