Era
comum bagunçar uma fileira imensa de cães caminhando juntos, como era comum devorar
os doces de uma macumba na esquina. Cachorro grande, injeção, trovões ou os
malditos fogos no fim de ano, Mafalda nada temia porque era curiosa, tudo
poderia ser uma grande descoberta a ela.
E um
dia ela se deparou com uma escada, com o embalo da caminhada, subiu os 20
degraus. E ao olhar pra baixo, não conseguiu acompanhar os passos do pai. Ficou
lá em cima, desesperada, e percebeu que não mais só pelo colo e pela comida,
chorava também por não saber descer escadas.
Até
que um outro dia, ela e o pai foram a uma igreja - seria benta no dia de São
Francisco de Assis - daquelas cuja escadaria nunca acaba. Como sempre, no
embalo, ela subiu. E percebeu, viu-se num mundo acima das nuvens. E na hora
olhou para cima e teve certeza de que estaria junto dele para descer. Foi
quando ouviu um choro e não era o dela.
Uma
criança estava lá embaixo, sentada, às lágrimas, sabe-se lá por qual motivo.
Sentada no topo, os ouvidos fizeram Mafalda olhar para baixo. Olhou para o pai,
olhou para a criança. Não titubeou, esqueceu-se de onde estava e partiu em
disparada escadaria abaixo.
O
pai mal teve tempo de se desesperar, quando parou a correria atrás dela na
metade dos degraus. Havia algo mais encorajador a ela, a tristeza nunca poderia
vencer. Mafalda correu até a criança, apoiou-se na perna da menininha e secou a
lambidas todas as lágrimas que escorriam pela bochecha rosada.
O
pai sorriu e a criança também, começou a gargalhar de cócegas. Nunca se soube
qual foi o motivo que fez a criança chorar, mas todos naquela tarde viram qual
foi o motivo que a fez sorrir.
Mafalda aprendeu a descer as escadas
e talvez nem tenha percebido que conseguiu tal proeza, e deixou duas lições a
todos: a primeira, que sempre haverá alguém para secar suas lágrimas; e a
segunda, que ninguém consegue esconder um chinelo como ela.
Excelente! Meus olhos ficaram suados com seu texto.
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ResponderExcluirObrigado, mano! Assim como os seus, os meus suam todas as vezes que ela me vem à mente!
ResponderExcluirA Mafalda e a criança, que máximo! Muito além de um humano! Adorei!
ResponderExcluirLu, todos os cães são muito além de qualquer ser racional! Obrigado!
ExcluirNão conheci a Mafalda, mas cada vez que vc fala sobre ela, eu gosto mais e mais dela. Esse texto me emocionou também. Só quem ama os animais e convive com eles consegue perceber a nobreza dos seus gestos! ;)
ResponderExcluirFalou tudo, Dri, só quem convive com eles sabe isso!
Excluirolá!...que bom que já consegue fala sobre ela...sinal de que a dor já diminuiu. A saudade, infelizmente, não passará.
ResponderExcluirPietra, saudade é uma dor doce! Mafalda sempre será meu coração!
ExcluirQue lindo! Adriano, quando eu crescer, quero ser igual a você! Beijos em seu coração!
ResponderExcluirImagina, Ângela, você já é querida por todos, eu quero ser uma Ângela quando crescer! Beijo! Obrigado pelo apoio!
ExcluirQue texto mais lindo! *_*
ResponderExcluirQueremos mais!