Dia
marcado, nervos literalmente à flor da pele. Estúdio maravilhoso, gente
descolada, diria a mãe, entraria ao mundo dos adultos de modo intenso. Estêncil
pronto, cores separadas, motorzinho em ação e o primeiro traço foi feito sem
mais problemas.
15
minutos depois, pareceu sentir uma fisgada na barriga, uma espécie de
desconforto. Minutos depois, o incômodo começou mais forte. Sim. Talvez todo o
nervosismo e o hambúrguer da noite anterior começavam a alfinetar o intestino
do rapaz, que travou tudo e começou a rezar.
Eles
cobravam por hora, interromper uma sessão assim renderiam mais reais, os que
ele não tinha. O contorno já estava pronto e dizem que para colorir era menos
demorado... Ou seria dolorido? Que seja. Ele não estava bem. Ficou quieto e
suando.
O
braço às vezes tremia, porque a cólica e a natureza vinham forte. Talvez se não
falasse, o artista terminasse mais rápido. Deixou os elogios para depois, e
toda aquela tortura parecia ser infindável.
Ser
tatuado é um ritual de dor e delírio, mas tudo aquilo, com uma caganeira iminente,
deixava os minutos longos, estava num deserto a pé. Suores, calafrios, braço
trêmulo. Por vezes o tatuador pediu que se contivesse, caso contrário o desenho
se perderia.
600
reais investidos numa diarreia, e aquela tatuagem do inferno. Nem pensava mais
nela nem sentiu o prazer das agulhas nem sorria mais nem a queria mais. O
tatuador fechou a cara, enquanto o cliente tentava fechar o cu. Mas existem
momentos que nem mesmo a determinação espartana consegue. E os esfíncteres
relaxaram.
Não
conseguiu segurar. Foi durante o “Pronto, terminamos”, que aquela coisa morna e
pastosa se fez na cadeira e começou a escorrer-lhe pela perna. Uma lava quente
e podre, que corria agora até as meias.
Não
soube como conseguiu sair de lá. Andou como se tivesse câimbras até o carro.
Não soube como sentou naquele creme fétido e dirigiu até em casa. Fato é que
aquela tatuagem representava mais do que ele era, marcou mais que sua pele,
porque as manchas nas calças, meias e cueca, pela estampa, nunca mais seriam
apagadas.
O
que ele levou daquilo tudo? Teve a certeza de que o alívio vale mais do que 600
reais.
Acho que a primeira tatuagem não se esquece, mas nesse caso seria ótimo poder esquecê-la e, justamente por isso, seria eternamente lembrada...kkkkkkk
ResponderExcluirMuito bom!
Lu, tenha certeza de que essa tatuagem foi marcante! - rs
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