sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A PRIMEIRA TATUAGEM

Tantos meses procurando o desenho ideal, a figura que melhor representasse a sua essência e a primeira tatuagem sairia. Juntou grana e conseguiu escolher o melhor estúdio de São Paulo, pagaria por hora.

Dia marcado, nervos literalmente à flor da pele. Estúdio maravilhoso, gente descolada, diria a mãe, entraria ao mundo dos adultos de modo intenso. Estêncil pronto, cores separadas, motorzinho em ação e o primeiro traço foi feito sem mais problemas.

15 minutos depois, pareceu sentir uma fisgada na barriga, uma espécie de desconforto. Minutos depois, o incômodo começou mais forte. Sim. Talvez todo o nervosismo e o hambúrguer da noite anterior começavam a alfinetar o intestino do rapaz, que travou tudo e começou a rezar.

Eles cobravam por hora, interromper uma sessão assim renderiam mais reais, os que ele não tinha. O contorno já estava pronto e dizem que para colorir era menos demorado... Ou seria dolorido? Que seja. Ele não estava bem. Ficou quieto e suando.

O braço às vezes tremia, porque a cólica e a natureza vinham forte. Talvez se não falasse, o artista terminasse mais rápido. Deixou os elogios para depois, e toda aquela tortura parecia ser infindável.

Ser tatuado é um ritual de dor e delírio, mas tudo aquilo, com uma caganeira iminente, deixava os minutos longos, estava num deserto a pé. Suores, calafrios, braço trêmulo. Por vezes o tatuador pediu que se contivesse, caso contrário o desenho se perderia.

600 reais investidos numa diarreia, e aquela tatuagem do inferno. Nem pensava mais nela nem sentiu o prazer das agulhas nem sorria mais nem a queria mais. O tatuador fechou a cara, enquanto o cliente tentava fechar o cu. Mas existem momentos que nem mesmo a determinação espartana consegue. E os esfíncteres relaxaram.

Não conseguiu segurar. Foi durante o “Pronto, terminamos”, que aquela coisa morna e pastosa se fez na cadeira e começou a escorrer-lhe pela perna. Uma lava quente e podre, que corria agora até as meias.

Não soube como conseguiu sair de lá. Andou como se tivesse câimbras até o carro. Não soube como sentou naquele creme fétido e dirigiu até em casa. Fato é que aquela tatuagem representava mais do que ele era, marcou mais que sua pele, porque as manchas nas calças, meias e cueca, pela estampa, nunca mais seriam apagadas.

O que ele levou daquilo tudo? Teve a certeza de que o alívio vale mais do que 600 reais.

2 comentários:

  1. Acho que a primeira tatuagem não se esquece, mas nesse caso seria ótimo poder esquecê-la e, justamente por isso, seria eternamente lembrada...kkkkkkk
    Muito bom!

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  2. Lu, tenha certeza de que essa tatuagem foi marcante! - rs

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