Sabia que estava perto e que agora, mais do que nunca, não quereria estar em outro lugar, em outra situação, respirando outro ar. Um ar que não distinguia sucesso de fracasso, vitória de derrota. Uma mescla de excitação, desânimo, alegria e decepção iminentes.
Um novo sentimento acabara de existir para si, pois sentimentos aparecem e se criam. Nunca esteve tão perto. Não conseguiu precisar quantos metros havia naquele corredor. Passo a passo, seguia. Comedidos, medidos, quase parados. Quantos passos mais?
Sentiu um arrepio na espinha. Uma gota fria de suor a lhe escorrer pelas costas. Uma única gota, apesar do forte calor daquela noite chuvosa. Não precisava de todas as gotas que o céu mandava, uma só lhe bastava. Talvez não soubesse o que faria depois daquela noite.
Talvez toda razão de viver estivesse para terminar. Não se importava. Queria realmente acabar com aquilo. E parece que media quando, saboreando a transição do desconhecido para o realizado.
O preciso momento em que a primeira gota de água desce pela seca garganta. A primeira sensação quando a dor desaparece. E andava. Estava firme. Não acreditava. Acreditava. Não hesitou. Agora sim. Andou de novo. Olhava aos lados, mas sabia que o negrume apenas iluminado pelos raios nada lhe traria. Tudo o acompanhava. Agarrava-se-lhe à nuca e não o soltaria até saber o que o futuro o reservava.
Apesar do barulho da tempestade, o som inexistia, as batidas do coração não condiziam aos passos. A respiração ofegante. Os aplausos. O silêncio da derrota. Quem lhe faria companhia. Jorge ficou parado lá trás. Até quando. Quer terminar. Não o quer. Quer sim. Hesitação. Excitação. Controle.
Perdeu-o. Achou-o. Andou. Parou. Continuou. Até quando. Não poderia suportar. Poderia. Pensou que sim. Pensou que não. Uma luz! Era. Era sim. Um convite. A luz guia. A luz cega. Entorpece. Esclarece. Não seguia, mas o fazia. Um convite. Não o recusaria. Um gemido, sim, ouviu um gemido. Até quando. Quando acabar. Se acabar. E acabou...
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