Quis
o pai e os dias que a carreira de advogado fosse prioridade. Formou-se e
assumiu com maestria o escritório do avô. As leis tributárias eram os pratos a
serem equilibrados, e, diga-se de passagem, muito bem equilibrados.
Foi
então que se encontrou com um curso de palhaço, desses que servem para livrar
as pessoas do estresse, desses que servem como terapia. Mas a ele não, era mais
do que isso.
Aproveitou
bem a chance, e, três vezes por semana, ele e mais 29 tiravam as máscaras de
executivos, comerciantes e médicos e assumiam os narizes vermelhos e as
traquinagens. E na terceira semana, o sonho. Sim, as pernas-de-pau estavam em
seu caminho.
O
que demoraria a todos, a ele foi nada. O sonho era seu combustível. Ele montou
aquilo como se montasse na própria fantasia. Em duas aulas, já se equilibrava
muito bem. A partir da quarta, ganhou caminho, ganhou vida. E o que seriam
apenas alguns passos tornou-se em dança, pulos etc.
Estava
tão familiarizado com o assunto, que o professor o indicou a uma brincadeira.
Um primo inauguraria uma concessionária imensa de uma marca alemã. Haveria de
tudo, até mesmo um palhaço com as pernas gigantes. Nem mesmo os 100 reais por 5
horas de trabalho, mais o lanche e o refrigerante tirariam a chance. Sim, ele
foi!
Estava
lá, e pôde reconhecer dois ou três clientes, com a família, se divertindo com
carrões, pipocas e as peripécias daquele palhaço. Divertiu-se duplamente, mas
principalmente por não ter sido reconhecido, nem seria.
Dançou,
pulou, entreteve o muno. Disseram que dois carros foram fechados por causa do
malabarismo eminente. Talvez tenha sido azar, talvez tenha sido distração,
talvez tenha sido inexperiência, porque uma hora ela apareceria.
Foi
num movimento de balé que, ao içar a perna direita num chute para trás e abrir
os braços, a perna de madeira acertou em cheio o queixo de uma doce senhora,
que sorria encantada até ser nocauteada.
Burburinho.
Correria. Gritos. Sim, a velhinha estava no chão. Ele se virou aflito, tenso.
Quis descer o quanto antes de lá, e esse gesto afoito o derrubou. Ele caiu em
cima do carrinho de pipoca. Foram ao chão o pipoqueiro, os milhos. As pombas do
mágico voaram para o banquete. As crianças voaram para as pipocas. O caos.
Ele
ficou sem o lanche, sem o cachê e rezou para que a senhora não tivesse tido
algo pior. Mas a sequela maior foi quando, na segunda, ao abrir a porta do
escritório, encontrou a mesma senhora, de nariz quebrado e queixo ralado, e
tentou dissuadi-la de processar um artista circense. São três horas de conversa
e até agora não obteve êxito algum...
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