O
famoso “Deus castiga” é a melhor forma de resumir a história a seguir. Eram
duas primas e, por enquanto, não classifiquemos quem seria o anjo e quem seria
o cão. Estavam numa dessas semanas de feriado ou qualquer coisa que o valha,
cada qual com seus 4 aninhos.
Brincavam
com suas Fofoletes, quando uma delas
resolveu apimentar o lúdico. Foi durante o lanche. Uma delas mastigou bem a
pipoca, misturou coma groselha na boca e simulou um vômito magistral, fato que
resultou num vômito real da outra, que desandou a chorar, e acabava por
entregar um ponto fraco.
E
como toda criança é maquiavélica, aquilo se tornou aliado e acabava de separar
as duas para sempre. Aos 12 anos, no meio de uma festa de família, a maldosa
não teve outra saída, senão – no meio do aniversário do anjinho – aparecer no
meio de todos os colegas dela e simular outro vômito.
Resultado,
o melhor amigo da boazinha teve a calça infestada de coxinhas e refrigerante. Pior
é pensar se realmente a maldosa passou anos, depois de conquistar a confiança
da prima, pensando em executar outra obra-prima daquelas.
Naturalmente,
elas se afastaram. Nem adolescência, nada. Mantinham um discreto contato, até a
maquiavélica se casar. Sim. 13 anos sem se verem, e o convite chegava das mãos
dela e do educado noivo. E santo que nasce santo morre santo. A prima boa viu o
olhar doce da outra e teve a certeza de que tinha mudado. E tinha mesmo,
parecia alguém normal, talvez o amor tenha feito isso a ela.
Cerimônia
linda, coral impecável, arranjos únicos, uma noite banhada de elegância e bom
gosto. Choro dos padrinhos, até a prima boa chorou, o que era comum e
previsível. O abraço entre as primas então foi comovente. A foto ficou
maravilhosa.
A
música na recepção, então, de um charme poderoso. Ouvir o Daniel Boaventura
cantar e trazer um Sinatra ou um Tony Bennett para juntos de todos era um sonho,
um sonho. Até o padre estava por lá e embalou as danças, relembrando a
juventude com seus ídolos.
Embalou
tanto e misturou tanto que não se sentiu muito bem. Correu para o banheiro,
entrou e saiu branco. Encontrou-se com a noiva no hall entre os banheiros,
estava parado e pálido. A moça correu para ajudá-lo, ele se apoiou nela e
deitou.
Estava
com a cabeça apoiada no branco do vestido. Tudo rodava. Talvez tenha sido o
champanhe, talvez tenha sido a maionese de camarão, talvez tenha sido as
frituras, talvez tenha sido as batidas, fato é que o cara teria de colocar tudo
isso pra fora, e colocou lá dentro.
Mas
o mal-estar prevalecia ainda e de nada adiantou os abanos da noiva. O homem não
aguentou, vomitou tudo, tudo. E, por Deus, ele teve o bom senso de rapidamente
se levantar e virar o rosto para o lado contrário ao da noiva, que continuou a
segurar a mão dele enquanto o jato saía.
E
talvez tenha sido também, por Deus, que, segundos antes de isso acontecer, a
prima boa foi chamada pela noiva para acudi-los. O coração bom e solícito do
anjinho era sempre bem-vindo. Mas em segundos, a roda gigante virou de modo
abrupto.
Do
jato do padre, ela escapou, mas a prima que chegava segundos antes, agachava-se
pra ajudar, teve os sapatos e os joelhos infestados daquele lodo azedo. E, como
tudo que vai volta, sobrou para a noiva, que recebeu em cheio, no decote e no
rosto, toda injúria e maldade que deu à prima, que também não aguentou e
devolveu na nuca do padre.
Pois
é, se Deus realmente castiga, e se o que damos recebemos em dobro, o presente
veio com azedume e ao som de HELLO DETROIT.
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