Ruiva, de pudor bélico e de óculos escuros. Um sim à depravação. O rosto dele se iluminou, e o sorriso doce e fácil puxou-o para perto. Ele imediatamente se levantou, depois de concedida, a cadeira estava ocupada. Não se pode escutar o que falaram daqui, porém temos a certeza de que ele fora preciso. Em meia hora, partiram e ele deixou outro fato, que pairou por momentos por lá e seguiu com os dois.
E sempre foi assim, como um cão, ele a
seguiu. Por onde fosse, ele iria, o que fizesse, ele acataria, se ela morresse,
ele a velaria. Virou esquinas, sentiu aromas, não percebeu onde estava e, onde
estava, estava ótimo. Não quis bebida, a única coisa a ser sorvida era ela.
Foram ao quarto. Ela trancou a porta. Apagou a luz e fê-lo sentar na cama.
Sentou em suas coxas, abraçou-o quase que num
gesto maternal, beijou-lhe a testa e pediu que esperasse, depois de vendá-lo.
Entrou na suíte. Quase se lhe podia ver uma lágrima a escorrer pelo rosto,
entretanto a venda sorveu-a por completo.
Não demorou, em minutos ela saiu. Chegou
perto de seu ouvido, balbuciou algo que o fez sorrir. Acendeu o abajur
vermelho, colocou dois fones em seu ouvido, falando que a música seria o
convite aos olhos. Logo, aquilo.
Não! Não podia ser! Sim, era! Aquela música!
Deus! Ele poderia arrancar as pálpebras com a força que puxou a tira preta.
Sim! Aquela dança! Ela! Ela! Ele a reconheceria vendado a metros de distância.
Sim! Não podia ser! Mas era! Ela! Um vaivém delicioso, e ele não conseguia sair
da cama.
Mesmo que trouxesse aqueles glúteos duros e
redondos para perto, ele não conseguia sair da cama. Uma crise de soluço e
choro, um calor no peito, um fogo dentro das calças. Estava nua, como nunca
postara. Nua de pele. Onde houvesse pele, estaria descoberta.
Sim! Ela! Tentou se lembrar do nome, ela
havia dito pelo caminho, mas não havia tempo para isso. Ela estava lá, era só
dele. Ele chorava. Ela lambia as lágrimas. Ele tremia. Ela dançava e mexia e
ele não. Talvez sentira seu quadril pular, tentando acompanhar aquele
ziguezaguear doce. Gozou. Nem a tocara, e ele gozou. O corpo todo tremia. Quase
que numa convulsão alucinante. A música. O cheiro. A dança.
Ela! Que chegava perto agora, ele chorava,
soluçava. Abriu-lhe as pernas e lentamente deitou-se em cima dele. Imóvel,
apenas deixou-se entregar e não viu que a tira de pano estava entre as mãos
dela. Ela enrolou firmemente na direita. Repetiu o gesto na esquerda e traçou
uma reta entre as duas mãos.
Uma ponte entre o sonho e a última coisa que
ele poderia ter. Mas o que viria a seguir não se concretizaria. Não se sabe se
ele berrou de dor ou de prazer, porque a música tomara conta do quarto.
Ele morria. Morria de prazer, literalmente
morria de prazer. Ela lamentou, ele fora o mais ousado e dedicado. Talvez o
mais apaixonado. “Que ironia”, ela pensou. Ela tirou a peruca ruiva e não
sabemos o que mais aconteceu nem se os olhos eram claros, porque quando se
morre por amor, o silêncio do respeito é o melhor acorde que se pode entoar. E faltavam
ainda 2 minutos para a música acabar.
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