Rock’n’roll: a primeira influência em
minha vida. A primeira namorada, o primeiro casamento, o primeiro e preferido
filho. É uma troca de energia, de amor e fidelidade. Sentimentos estes
repartidos aos moldes dos instrumentos que batizam tão sublimes toques.
Uma guitarra jamais esbofetearia o
parceiro quando este deslizasse a mão pelas curvas sinuosas e lustradas de um
corpo tão formoso; jamais a bateria clamará por silêncio, não são como os pais,
programados para mandar abaixar o volume do som, nem como as rádios, que tocam
o lixo passageiro da moda.
Está sempre lá, um psicólogo, um
conselheiro, o único a entender que aquela calça que sua mãe jogara fora estava
perfeita; o único que gosta das pontas enormes dos seus cabelos; o único a
elogiar as sete camisas pretas semanais; o único a se encantar com o quarto
cheio de pôsteres de homens e bandeiras da Inglaterra, enquanto outros escondem
as paredes com musas de borracharias. Esse é o rock’n’roll, que cheira à rota sixty-six e tem a aparência do demônio,
o mesmo demônio dos anos 50, ingênuo e de extremo bom gosto.
De extremo bom gosto, também, é o clã
que invoca os hinos ao satã. De Beatles
a Iron Maiden, de Rolling Stones a Black Sabbath, de Elvis
Presley a Van Halen, não importa,
todos são filhos de Lúcifer, bem como as roupas, os modos e até as opiniões,
tudo repugnado pela sociedade que escuta o que a moda permite. Era isso o que
eu sabia, era isso o que sempre escutamos.
Olhando agora, percebo ter participado
de algo que poderia revolucionar o mundo, algo em que acreditávamos ser uma
ideologia intransponível, na qual mortal algum poderia dar um basta definitivo
às nossas ideias. Ainda me lembro de tudo o que nos envolveu, das pessoas que
cruzaram o nosso caminho e das notas musicais que martelaram em nossos ouvidos;
lembro bem das noites de sábado e das tardes de domingo e ainda posso escutar o
pipocar dos discos a tremer o vidro fumê de minha casa e também os dos
vizinhos.
Pensando bem, analisando friamente,
sem qualquer tendência emocional ou paterna: valeu a pena! Faria tudo
novamente, sem desfazer as burradas ou as inutilidades. Ainda me recordo dos
amores e das mentiras, das aventuras, das tramas e do sabor do descompromisso
com a vida. Um tempo em que aula significava tortura; fim-de-semana, a nona
maravilha do mundo, depois do rock’n’roll, e família, uma desgraça, uma das
pestes que não povoou o Egito.
Parece que estou sendo sugado pela
memória e tudo é tão forte, tão presente, que sinto ser puxado para aquela
época, para junto de todos eles, para anos passados; e agora, é o som da
maturidade que rufa forte em minha vida...
...preferiria que fosse o rock’n’roll.
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