Seu
primeiro romance explodia com uma fúria criativa e depressão invejável. Sabia
trazer os problemas e rir deles como a fome que devastava as ruas ou os
escândalos que rompiam famílias e políticos.
Governo
falido, não havia dinheiro para se comprar comida, muito menos livros. E ele se
tornava ponte de entrada a algo. Lido no primeiro mundo, França, Estados
Unidos, Inglaterra e demais exemplos se rendiam às linhas do talentoso
literato.
E
o país entrava na lista dos mais lidos. Seis meses, mais de 20 milhões de
livros vendidos, primeiro lugar em cada esquina. ONU e ong’s descobriam aquele
fim de mundo, eram as letras que traziam ar e proventos para mais de 20% dos
analfabetos do local.
O
mérito viria como um relâmpago. O governo se reuniu e decidiu condecorá-lo com
mais que um cidadão, com 100 mil dólares, pela abastança que conseguia com seu
título.
Mas
o bom senso e a ideologia falam alto. Aceitou o diploma e as palmas, estendeu a
mão a todos os poucos poetas e catedráticos conterrâneos, e enfiou-a no bolso
para o cheque. Não cairia bem, ainda que fosse o salvador da pátria, engordar a
conta corrente enquanto houvesse corpos pelas valas, que não estavam de todo
limpas.
De
salvador, virou herói e de herói viraria santo. Realmente, homens de boa fé são
mais raros que escritores promissores.
Não
conseguiremos ver até quando isso se perdurará. Ao término desse texto, não
teremos o exato momento dos fatos ou saberemos se um segundo romance vingou.
O
que se tem certeza é que os direitos autorais podem não durar tanto assim, por
isso é que os estudos da única filha, de apenas dois meses, tinham de ser
garantidos. E, convenhamos, começar uma conta-poupança com 100 mil dólares é
tão raro quanto um efêmero e improvável sucesso literário.
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