Podemos
estender isso ás demais coisas nessa vida. Há os que nascem lindos, os que
nascem feios, os que são educados, os ogros. Há os delicados, há os atenciosos
e há pessoas como Estefânio.
Se
a tropeirice – Guimarães que me dê
licença – possa definir alguém, esse alguém é Estefânio. O cara nasceu
derrubando coisas, chutando outras, quebrando mais algumas. No berçário era o
único a perder a chupeta, abrir o berreiro e acordar todos.
Na
escola, sempre voltava sujo do suco, da tinta, com o joelho ralado. Foi o único
a quebrar o nariz dormindo, além de tudo era sonâmbulo. Talvez a única segurança
de mantê-lo ileso dos outros e dele mesmo, além da distância, fosse um
isolamento à Hannibal Lecter.
Que
a fama de furacão lhe era peculiar, todos sabiam. Agora quando o desastrado
colocava em risco a paz do universo, uma interdição deveria ser requisitada.
Estava
o homem no metrô, tranquilo no contrafluxo num raio de ação seguro a todos. Mas
o que uma inofensiva empadinha de frango com requeijão poderia causar: quase
uma guerra civil.
O
cara exagerou nas 6 empadas e começou a sentir o efeito delas entre uma estação
e outra. O conselho dele mesmo era não levantar, mas existem coisas que fogem
aos conselhos e ao controle. Não aguentando mais, esperou, suando frio, pela
próxima estação.
Fato
é que, se calmo, ele já causaria um terremoto, alucinado seria uma hecatombe. E
foi o que aconteceu. Num relance de sorte, havia ninguém entre o banco e a
porta do metrô. Numa linha reta, saiu em disparada. Conseguiu, às bicas, se
safar de duas velhinhas e uma mulher.
Não
se sabe como, conseguiu pedir informação a uma funcionária, que apontou o andar
de cima, em busca de um banheiro. Tudo bem que de cara ele escolheu a escada
rolante errada e ficou amassando degraus por uns 30 segundos. Mas isso se
descarta por causa do desespero.
Quando
conseguiu alcançar a escada certa, precipitou-se em desabotoar a longa bermuda
para facilitar a respiração, dominar o controle e viabilizar o objetivo. Tudo
seria plausível, caso ele fosse normal.
E
tudo daria certo, mas é Estefânio no comando. E foi na metade do trajeto,
quando o celular tocou e ele soltou a mão direita, a mesma que segurava a
bermuda aberta, para atender ao chamado. Escolha errada. A bermuda escorregou e,
assim que atingiu o topo, ficou presa entre os degraus. Vergonha alheia. Ele
conseguiu se prender na escada, fazê-la parar, derrubar dois dos degraus com o
impacto brusco.
Ele
ficou preso, a bermuda também. O instinto o fez tentar puxá-la para cima,
contornando uma cena dantesca. Estefânio no chão, com a bermuda nas canelas, a
mão esquerda na bermuda e a direita com o celular. O lado bom disso tudo: a
vontade de ir ao banheiro passou.
O
lado ruim, não havia cueca limpa na gaveta dele naquela manhã...
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