Vamos
chamar a menina de Carla, para preservar a identidade da protagonista deste
relato. Carla adorava dançar, tanto que acabou matriculada em aulas de dança
junto com a vizinha, mais madura, e que já sabia atravessar a rua sozinha.
Como
de praxe, todo ano havia uma apresentação de fim de ano. Era um conto de fantasia, com princesa, soldados, bichos etc. Alvoroço. Quem seria a princesa? Quem seria a princesa? Dentre as
várias meninas, nossa protagonista e a amiga ficaram como coadjuvantes, fariam
ursinhos que dançariam com os soldadinhos de chumbo.
Ao chegar a fantasia, uma sensação de desconforto tomou conta da dançarina. Aquele ursinho marrom com orelhas redondas e enormes estava mal modelado. Tudo bem, o mais importante para ela era fazer o seu melhor em nome da arte.
A
noite transcorreu bem e para todos os pais todas as filhas eram a princesa da
noite e roubaram a cena no palco.
30
anos depois. O ursinho cresceu.
A
irmã tinha uma enteada que seguia os passos da pequena bailarina de décadas
atrás. E, coincidentemente, encenaria a mesma obra de anos passados. Sim, O
QUEBRA NOZES estaria mais uma vez na vida do ursinho, porém Carla só soube disso durante o espetáculo.
Peça
muito bem montada, uma produção competente, de fazer a moça querer voltar no
palco, mesmo que seja como... Como... Não podia ser! Mas a verdade chegava nua
crua. Na cena dos soldadinhos de chumbo, não eram ursinhos que dançavam com
eles, porém ratos. Isso mesmo ratos, cinza e de orelhas grandes e redondas.
Os
olhos não enxergavam a montagem da mesma forma. Será? Será que houve uma
adaptação? Mas não. Soube naquele exato momento que os ursos nunca apareceram na obra,
não faziam parte dela. Por toda vida, uma das únicas experiências que teve no palco
não foi como urso, foi como rato mesmo.
Ratificou
que a confecção da fantasia era porca, de um mau gosto exagerado. Teve nojo de
tudo, e, principalmente, de si mesma. Um rato???
O
que aconteceu depois disso não saberemos, mas dizem que, na primeira sessão de
terapia, ela começou a conversa dizendo que Zé Colmeia tem uma importância bem
maior que o Mickey Mouse no mundo infantil, não é mesmo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário