Minha mãe costumava encerar o taco de casa. E quando se chocavam o lustro com as meias, algo convidativo e escorregadio aparecia. Sim. Eu comecei a tentar praticar aquele passo. E, numa tarde, quando estava quase conseguindo, meu mestre e algoz apareceu.
Marcelo quase me matou. Esbofeteou-me com palavras duras, disse que eu não era digno de escutar rock'n'roll, que eu jamais voltaria a dividir as mesmas músicas que ele e meu gêmeo. Disse que eu era o traidor do heavy metal.
Aquilo me feriu profundamente, chorei sozinho e escondido. Apenas queria tentar repetir aquela dança. Nunca mais tentei.
Anos mais tarde, dias depois da morte de Michael Jackson, num show da nossa banda, o mesmo Marcelo fez questão que eu cantasse Billie Jean. Cantei orgulhoso, mas não tentei repetir os passos. Talvez eu volte a tentar um dia que ninguém puder abrir a porta.
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