Dicionário
é o pai dos sábios, porque burro é aquele que não sabe o significado de uma
palavra e não o consulta.
E
muitas vezes a ignorância se transforma em burrice e leva certas situações ao
ridículo extremo.
Na
década de 90, os Titãs lançam uma música chamada CLITÓRIS. Até aqui, sem
incentivo a usar o dicionário, naquela época qualquer menino pré-adolescente
daria uma aula a respeito.
O
problema é que na letra aparecia uma palavra, GENUFLEXÓRIO, o que sim seria um
convite a folhear as páginas de um Aurélio ou de um Houaiss. Porém a intuição
acaba falando mais alto e berra o equívoco em alto e bom som.
O
garoto, chamemo-lo assim, porque tinha 18 anos e, na santa ingenuidade de sua
idade, colocou a cabeça para funcionar e conseguiu associar ambas as palavras.
Deve ter sido numa noite quente, de insônia e com pensamentos além da Magda
Cotrofe.
Sim,
achou o máximo a banda paulistana ter usado essas palavras sinônimas. Um dos
belos exemplos de como deixar o texto dinâmico, evitando ecos durante o teor.
Claro, era isso que a mente tacanha e inexperiente do rapaz conseguiu formular.
E,
muitas vezes, a ignorância acaba cobrando seu preço. Durante uma reunião de
amigos, uma menina comentou por cima sobre uma consulta dela no ginecologista.
A
autoafirmação e o gênio espirituoso do rapaz falaram mais alto e de pronto ele
interrompe a conversa e pergunta:
-
E tudo bem com seu genuflexório? – silêncio.
A
menina perguntou por duas vezes. E por duas vezes ele também devolveu a
pergunta. Silêncio. Ela indagou se ele sabia o que estava falando. Ele sorriu e
repetiu de modo enfático que dominava o assunto. Então ela foi cruel:
-
Alguém traga um dicionário e o faça procurar o que é genuflexório.
Ele
já sorria um sorriso amarelo de raiva. E pioraria quando um minidicionário deu
o ar da graça:
-
É com “g”, ok? Assim que encontrar, por favor, leia em voz alta.
E
foi o que ele fez. Durante a leitura, viu-se uma voz miúda, envergonhada e
levando-o para longe dali. Ao terminar a explicação, o grupo de lá veio abaixo,
as gargalhadas o colocaram no umbral da vergonha.
Se
você, leitor ou leitora, não sabe o que significa GENUFLEXÓRIO, deve dar um
crédito ao rapaz, que também nunca associaria a palavra ao local onde as
pessoas se ajoelham na igreja. Sim, aquela almofadinha colada na parte traseira
dos bancos de lá.
Pois
é, retomando o assunto sobre os clichês, o sábio Nelson Rodrigues – que deve
ter usado muito dicionários - estaria reprovando o constrangimento pelo qual o
rapaz passou , com certeza, e concluiria o relato, falando: “só se aprende pela
dor”.
E
depois disso, o pré-adulto teve a certeza de duas coisas: decididamente o
dicionário é o pai dos sábios e é incomum alguém gozar ajoelhado.
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