Essa
mania de cheirar pastas de dentes o perseguia há anos. O homem andava com um
tubo no bolso, cheirando sem parar. E não havia limites para isso. Uma bobeada
aqui, uma parada lá, o homem enfiava a mão no bolso, espremia um pouco de pasta
nos dedos, esfregava os dedos e tacava-os nas narinas.
Nojento?
Talvez não, mas de uma bizarrice suprema.Não pelo fato de os bolsos viverem
manchados, mas também pelo fato de ele exalar aquele aroma de hortelã com menta.
Talvez essa fosse a principal defesa dele contra qualquer asco. Fato é que
ninguém, mesmo assim, ficava ao lado dele.
A
pergunta que fica é como ele conseguiu trabalhar? Será que o vício é calculado
e reaparece em momentos mais seguros? Será que o medo de ser descoberto e não
conseguir se livrar do vício não o importunava? Fato é que o cara era o mais
bem-sucedido vendedor daquela empresa. Azulejos, pisos, revestimentos.
Não
se sabe se os clientes sabiam. Não se sabe quantos sabiam. O que se sabe é
todos da empresa sabiam. E não sabiam se os que soubessem não ligavam de saber.
Sabedoria demais ou ignorância demais.
E
como o obscuro sempre fará parte da vida. Naquela tarde, ele entrou na sala do
chefe, com seu cheiro de lavanda revelando o bizarro:
-
Aumento de 80% nas comissões e benefícios? O senhor está ficando maluco?
Educado,
ponderado e cheirando mais do que nunca os dedos, ele ponderou fatos, planilhas
e valores. 90% das vendas entre os 5 vendedores eram dele. Os maiores clientes
eram dele. O chefe estava encurralado. Pediu uma semana. Fez contas, revirou o
caixa. Não haveria como. Conseguiria apenas 25% e só.
Sete
dias depois, chamou-o à sala e lançou a oferta, sabendo que poderia ser
irrecusável. O vendedor, pegou o papel com a esquerda, cheirando os dedos da
direita. Leu, analisou, pensou e perguntou se aquilo seria a oferta final.
Confirmada, ele retirou outro papel da mala: era a carta de demissão.
O
chefe quase teve um ataque. Implorou que ele não fosse embora, que a empresa
precisava dele e teve de ficar quieto ao não conseguir responder por que não
atenderia ao pedido dos 80%.
Em
pânico, apelou a tudo e percebeu que não haveria jeito. Enquanto o rapaz saía
da sala, teve de escutar a tão derradeira pergunta:
-
E como outra empresa conseguiu te contratar com esse vício terrível?! Não
percebe quão incômodo você é a todos daqui?!
O
silêncio foi a pior resposta. Ele não sorriu nem esboçou uma cara de
reprovação, fato é que hoje, o nefasto triplicou as vendas da Colgate.
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