O
emprego na capital proporcionou mais do que salário, proporcionou gente,
situações e lugares. E nesse acaso, encontrou uma mulher linda, no exato
momento que respondera à última carta.
A moça havia mandado mais três, sem sucesso. Desesperou-se, mas se apegou a se preservarem até quando pudessem.
E
o rapaz namorou, noivou e se casou. Com o ótimo emprego, trouxe os pais para
morar num bairro próximo. Talvez o inconsciente mandasse para que nunca mais
voltasse a se encontrar com seu passado.
Nunca
mais soube da promessa, nunca mais soube da menina.
No
aniversário de 40 anos de casamento, a esposa perdeu o ar. Sentou-se depois da
primeira valsa. E caiu durante a festa para nunca mais levantar. Um enfarto
fulminante.
Filhos
e netos choravam a morte daquela mulher exemplar.
Aos
65 anos, ainda jovem e elegante, viu-se só. 10 meses depois, e numa tarde de
domingo cinza, remexendo a memória, lembrou-se da promessa e da moça, linda por
sinal.
E
aquele instinto de curiosidade acendeu-o de novo. Naquele mesmo dia, preparou a
viagem de 3 horas para o seu passado.
Fazia
sol, quando entrou naquela província. Nada quase havia mudado. Todos olhavam
furtivamente ao belo carro preto, que contornou a praça da matriz e parou na
primeira rua à esquerda.
O
número era o mesmo, mas a casa estava mudada. Linda, com um jardim maravilhoso,
o que ratificava a predileção dela por flores. Ele desceu, tocou a campainha e
viu que aqueles olhos azuis estavam lá.
Ele
sorriu e ela devolveu. Ele a beijou na mão, ela retribui o carinho. As juras de
amor voltam, ele sorri e se prende a ela de novo. Ele a pede em casamento. Ela
aceita com uma condição, para compensar os anos de espera: que seja na igreja
da Matriz e que só voltassem a se ver no dia das núpcias.
Ele
entende, sorri e prepara tudo. Não obteve a aprovação da família, que julgou a
senhora oportunista, mesmo que ele tentasse explicar que nunca mais tinham se
encontrado e fora ele quem a procurara.
Ele
foi só à igreja, o motorista seria o único convidado. A igreja estava linda. Os
sinos dobravam como nunca. Romantismo demais, mais de 40 anos de espera e o
amor selava o compromisso dos dois.
Amigos
de infância, pelo menos os que ainda viviam, estavam lá. Irmãs, primas, o local
estava lotado. Ele entrou e se posicionou. O coral entoou a entrada da noiva,
que apareceu de braço dado a um senhor, jovem demais para ser seu pai.
E se aproximaram, mas o par dela não a deu ao marido. O noivo estranhou. Ela
beijou a bochecha do par, foi até o noivo, beijou-o na testa e pediu a
microfone do padre, anunciando a renovação dos votos do casamento que aconteceu
há 35 anos. E todos aplaudiram.
Então
teve a certeza de que merecia tudo aquilo. Sorriu um sorriso amarelo, desejou
felicidades aos noivos e saiu.
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