O
ano é 1992. Tínhamos um grupo seleto para ir aos jogos do Palmeiras. Não me
lembro se naquele domingo havia mais alguém, mas fato é que eu, Marcelo Paciello,
Luciano Paciello e Anderson Menon, vulgo Xu, estávamos na estação de metrô
naquela tarde.
Pela insensibilidade da Federação Paulista, Palmeiras e São Paulo jogariam no mesmo dia, no mesmo horário. E fomos os 4 ao jogo já nos moldes costumeiros, anônimos.
Ao
chegarmos na plataforma, percebemos uma movimentação grande de palmeirenses.
Porém, não percebemos que de longe havia são-paulinos se aproximando. O embate seria iminente.
O
deslocamento começou a acontecer. Um grupo se juntou e começou a xingar. Em vez
de o outro se afastar, não, preferiram retribuir a recepção. E nós torcendo
para que o trem chegasse o quanto antes.
Nervos
acalorados, tensão acesa, trem chegando.
E
chegou antes que os dois grupos se atracassem. Rapidamente, os 4 entraram e
deixaram muitos na plataforma. A porta fechou, mas o trem não saía, e a briga
começou, a metros de todos, que se amontoavam nas janelas com olhares tensos,
mas curiosos.
Como
a plateia era grande, o Marcelo não conseguiu um bom lugar para ver. Não teve
dúvida, forçou a porta do trem com as mãos, abrindo-a, enfiou o rosto entre as
borrachas e bum! Um rojão estourou por lá. Todos se assustaram, inclusive o meu
mais velho, que, num impulso, começou a berrar:
-
Meus óculos!!! Meus óculos!!!
De
pronto, o Xu, que estava perto da porta, deu murro no compartimento de plástico
e acionou o botão de alarme. Imediatamente a porta se abriu e o escandaloso do
Marcelo saiu berrando:
-
Meus óculos!!! Meus óculos!!!
E
o bizarro aconteceu. Quando você menos espera, o milagre se faz. Aquele alemão,
vermelho de berrar, com os olhos azuis arregalados berrando conseguiu o
impossível.
A
briga parou.
Todos
se sensibilizaram com os urros do meu irmão. Deu até para ver um palmeirense
enforcando um são-paulino com a direita e socando o rosto dele com a esquerda
parar o ato e perguntar se o Marcelo estava bem.
Até
mesmo o surrado se preocupou. A briga tinha cedido. Marcelo Paciello, o
pacificador da tarde. O
trem partiu. Funcionários do metrô chegaram. Interditaram a estação e pescaram
a armação dos trilhos. Uma lente sumiu, mas a outra estava lá.
Fomos
ao jogo e tivemos de ouvir o caolho do meu irmão reclamar que não conseguia
assistir direito ao jogo por conta de uma lente só.
Não
sabemos se a briga recomeçou, só tivemos a certeza de que Marcelo Paciello
igualou-se a Pelé, também parando uma guerra.
E
naquela tarde, o palestrino endossou e fez jus a um ditado popular: quem tem um
olho, é rei.
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