E
aqui no Brasil ainda não alcancei o real significado da idolatria. Sim. Existe
um ponto crucial em que um ídolo deixa de sê-lo e sobe a um patamar de deus: a
morte.
A
morte em terras brasileiras a determinadas pessoas e a determinados defuntos traz
uma conotação tão sublime, tão única, que pecados são perdoados, diferenças são
esquecidas e, pior, valores lhes são atribuídos.
Pense
rápido, quando ler os nomes que aparecerão por aqui, compare-os a um status de
idolatria no Brasil: Émerson Fittipaldi, Gustavo Kuerten, César Cielo, Nelson
Piquet, Pelé, Luis Fernando Veríssimo, Maria Esther Bueno.
Tenho
certeza de que você deve ter aprovado a maioria. Agora, por favor, leia os
seguintes: Ayrton Senna, Denner, Mamonas Assassinas, Chorão, Cazuza, Tancredo
Neves.
De
cara, a diferença entre os dois grupos é a vida e a morte.
Mas
existe uma diferença ainda maior entre eles: o status de deus.
O
Brasil ama a morte, o Brasil ama a morte por acidente, o Brasil ama a morte em
decorrência de um sofrimento absurdo e, consequentemente, eleva isso como um
bônus nas qualidades já gigantescas dos que se foram.
Não
questiono de forma alguma o talento daqueles que foram, as promessas que os
rondavam quando foram podados no auge da carreira.
Posso
me equivocar, mas acho que não. Qualquer brasileiro identificará todos os que
se foram, sem exceção, como exemplo de tudo. E acredito realmente que são. Mas
nem todos, aposto que metade deles, não deem o valor exato a todos que se
encaixaram no grupo dos vivos.
A
diferença pontual entre os dois: a morte.
Quanto
mais brutal, quanto mais comovente, quanto mais sofrida, os talentos vão
triplicar, quadruplicar, quintuplicar. Ouso dizer que se o Pelé fosse
argentino, seria maior que Martin Luther King ou Nelson Mandela.
Não
quero entender por que isso acontece aqui, mas acontece.
E
o que aconteceria se Neymar, o casal da banda Calypso, o Felipe Massa e o
Thiaguinho morressem vítimas de circunstâncias violentas ou sofríveis?
Atingiriam o patamar de Denner, dos Mamonas, de Ayrton Senna e do Cazuza.
Morte
a Émerson Fittipaldi, Gustavo Kuerten, César Cielo, Nelson Piquet, Pelé, Luis
Fernando Veríssimo, Maria Esther Bueno, tornem-se deuses também.
Já o Maradona, se fosse brasileiro, seria um azar dos diabos a ele...
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