E
foi o que começou a fazer, se os obstáculos não sumissem, ao menos a saúde
poderia estar intacta às bofetadas da vida.
Fazia
o melhor itinerário que podia, sem ladeiras. No primeiro dia, no meio da
calçada que beirava a avenida, havia uma moita regada por um lodo e uma piscina
barrenta. Desviou. Continuou.
Pelo
caminho, pensava, pensava, pensava. Se houvesse jeito pra tudo, haveria jeito
pra tudo. Sabia que havia uma solução, bastava andar e pensar.
No
segundo dia, sempre depois do trabalho, fosse a hora que fosse, ele calçava os
tênis e seguia, procurando a solução enquanto ganhava chão. E sem perceber lá
estava de novo com a mesma moita, o mesmo lodo, a mesma piscina.
Esperou
que os carros que passavam a toda à sua direita passassem a toda à sua direita para
que ele fizesse esse trajeto, de uns 50 metros pela avenida.
E
a vida seguiu por uns dias. Andando, trabalhando, não dormindo, pensando e
orando. Andando, trabalhando, não dormindo, pensando e orando.
A
situação não havia mudado em nada. Certo, alguns amigos notaram uma ausência
flácida na região abdominal, ele as dores musculares, que cediam a cada dia.
Depois
de semanas, percebeu que a melhor parte do dia era a caminhada. Em até certos trechos
do trajeto, ele esquecia os problemas e se lembrava de outras coisas que o
faziam sorrir.
E
a vida seguiu por umas semanas. Andando, trabalhando, não dormindo, pensando e
orando. Andando, trabalhando, não dormindo, pensando e orando.
Não
conseguiríamos terminar o relato sabendo se todos os problemas foram sanados,
se o sono voltou em paz. Porém o que se pode contar é que, naquele dia, no exato
ponto em que tinha de desviar por causa da moita, ele parou.
Olhou
bem adiante e seguiu comedido. A moita havia sumido, assim como o lodo e a
piscina. Havia apenas 50 metros de barro seco. Ele pôs o primeiro pé, seguiu do
segundo e caminhou firme pela primeira vez aquela parte do trajeto.
E
durante esses 30 segundos, nenhum carro passou a toda à sua direita.
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