Havia
meses que o rapaz não dormia bem. Os problemas se amontoavam em suas costas
feito sanguessugas. Não havia porto seguro, nem de casa nem do trabalho, nada.
Seguindo certa vez um conselho do endócrino: “quando tiver problemas, ande!”
E
foi o que começou a fazer, se os obstáculos não sumissem, ao menos a saúde
poderia estar intacta às bofetadas da vida.
Fazia
o melhor itinerário que podia, sem ladeiras. No primeiro dia, no meio da
calçada que beirava a avenida, havia uma moita regada por um lodo e uma piscina
barrenta. Desviou. Continuou.
Pelo
caminho, pensava, pensava, pensava. Se houvesse jeito pra tudo, haveria jeito
pra tudo. Sabia que havia uma solução, bastava andar e pensar.
No
segundo dia, sempre depois do trabalho, fosse a hora que fosse, ele calçava os
tênis e seguia, procurando a solução enquanto ganhava chão. E sem perceber lá
estava de novo com a mesma moita, o mesmo lodo, a mesma piscina.
Esperou
que os carros que passavam a toda à sua direita passassem a toda à sua direita para
que ele fizesse esse trajeto, de uns 50 metros pela avenida.
E
a vida seguiu por uns dias. Andando, trabalhando, não dormindo, pensando e
orando. Andando, trabalhando, não dormindo, pensando e orando.
A
situação não havia mudado em nada. Certo, alguns amigos notaram uma ausência
flácida na região abdominal, ele as dores musculares, que cediam a cada dia.
Depois
de semanas, percebeu que a melhor parte do dia era a caminhada. Em até certos trechos
do trajeto, ele esquecia os problemas e se lembrava de outras coisas que o
faziam sorrir.
E
a vida seguiu por umas semanas. Andando, trabalhando, não dormindo, pensando e
orando. Andando, trabalhando, não dormindo, pensando e orando.
Não
conseguiríamos terminar o relato sabendo se todos os problemas foram sanados,
se o sono voltou em paz. Porém o que se pode contar é que, naquele dia, no exato
ponto em que tinha de desviar por causa da moita, ele parou.
Olhou
bem adiante e seguiu comedido. A moita havia sumido, assim como o lodo e a
piscina. Havia apenas 50 metros de barro seco. Ele pôs o primeiro pé, seguiu do
segundo e caminhou firme pela primeira vez aquela parte do trajeto.
E
durante esses 30 segundos, nenhum carro passou a toda à sua direita.
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