Ela
tomou a mão dele, ainda que a ciência das letras lhe fugia o domínio, a mulher
leu bem os traços quase indecifráveis da direita. E não precisou de muita
coisa, em segundos falou que ele se casaria com alguém do bairro vizinho que
tivesse passado por uma cirurgia no coração, que a esposa seria leal até o fim
dos dias.
Semanas
depois, a profecia se realizara. Ele arregalou os olhos quando percebeu que a
moça se encaixava em tudo o que a cigana lhe havia dito. Mesmo que estivesse
com um pé atrás, mesmo que não fosse um amor assim tão intenso, mas lealdade
não é algo que se vê sempre. E assim ele se casou com a promessa.
E
quando se fala que lealdade é algo raro e que as adivinhações não devem ser
levadas tão a sério, um ano após se casar, se divorciava. E julgou-se idiota
por seguir as coincidências daquela tola. Largou o sugestionável e decidiu
seguir o que a vida deveria realmente trazer.
Casou-se
pela segunda vez, sem cartomante nem igreja. Sabia que nunca pôde seguir
profecias e por isso este deveria ser o bem-sucedido enlace. Não foi. 3 anos
depois, divorciava-se pela segunda vez. A diferença é que agora a decepção e o
sentimento pacóvio não estavam lá, quis a vida, quis os dois que cada qual
seguisse sua vida.
E,
pela terceira vez, estava num relacionamento. Desejou ser o último, mas o
passar dos dias apenas endossou que ele e ela se completavam nas diferenças.
Tinham a certeza de que havia uma troca, uma troca de opiniões, de vontades e
de que empatavam cada qual a vida do outro.
E,
quando jurou a si mesmo que assim como a cigana, esqueceria do amor,
abandonaria o coração e viveria das aventuras que o mundo colocasse em cada
curva que fizesse. E foi numa dessas curvas que ela apareceu.
Olhar
agudo, sorriso fácil, encaixe perfeito. Um a extensão do outro. E todos os
clichês faziam um séquito atrás dos dois. E era fácil, e era leve, porque eram
apenas um.
E
não se sabe em que momento ele parou, depois de quase 10 anos juntos, numa
sacada de um hotel. Ele virou sorrindo a ela um sorriso tão besta tão imbecil
que ela nem percebeu e talvez nunca saberá.
No
cartão-postal à mãe, ela colocou o nome daquele bairro e dizia que o coração - o
mesmo operado há anos - batia as saudades e as felicidades como nunca sentidas.
E ele bem que desejou, mas não poderia mandar outro cartão postal à cigana daquela
esquina.
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