O eco que viria a seguir era comum. Nada mais do
que isso. Quantidade e qualidade andavam de mãos dadas na vida daquele homem, a
última calipso do mundo. Solteiro, uma cobertura a 500 metros da Paulista, sem
mãe nem pai ou irmãos.
Um Audi e uma Harley Davidson, um cartão de crédito
sem limites, mais de 2000 amigos nas redes sociais, fotos pelos 4 continentes,
conhecedor de bons vinhos, uma minibiblioteca de mil livros, uma dezena de
raridades autografadas, fotos com modelos, pelo menos todas as que comeu,
compras somente na Oscar Freire, festas todas as noites, e é melhor acabar a
descrição aqui porque o incômodo é iminente.
Ele sabia que havia urubus, mas nunca soube quais
não eram e muitas não foram. Justificável o escudo, de grife, claro, mas a
carcaça do Bate-Fino era de um aço tão resistente que daria inveja em qualquer
Jesse Valadão. E digamos que ele fosse uma espécie dessas, mas com requinte, um
perfume importado, jeans Diesel e dois rolex.
Há tempos parou de contar todas as conquistas, teve
medo de ganhar dos tombos de seu escritório. Mas nada profundo. Nunca amou nada
além de si mesmo. Na portaria, uma lista de nomes proibidos, tanto quanto seu
número de celular e os bloqueios virtuais. Resumindo: a elegância de Rodrigo
Santoro com a sutileza de Paulo Leminski, a inteligência de Chico Anysio e a
riqueza de Eike Batista, ou seja, deus.
Mas entre o minúsculo e o maiúsculo há uma
diferença maior que o carisma e a fama do homem. E sabe-se lá por que coisas
acontecem, elas acontecem. Tarde de sábado, numa espera com um grupo de amigos
em um restaurante badalado, apareceu a hostess mais incrível que pudesse
existir, uma relações-públicas do paraíso.
Paralisado. Caído. Enfeitiçado. E quando a fome desaparece,
significa um alerta vermelho, e este apitava uma araponga amplificada. O homem
surtou. Como um cão louco, quase dividiu
a recepção dos clientes. E ela fugiu a tarde toda e todas as demais daquela
semana. Não era mais o mesmo. Almoçou todos os dias, variou pratos, fez
amizades com os garçons, despertou o interesse de várias clientes que sentavam
por lá. Porém a menina era arisca, estava a um passo à frente dele, mesmo que
as pegadas dele pisassem as dela.
As orquídeas não funcionaram, o Coco Chanel ficou
com a irmã, Mas a Louis Vuitton ela aproveitou. E nada. O preço dela era muito
mais deslocado. E foi com a primeira edição de Dom Casmurro que a Capitu
sorriu a precisão do mimo. E um café da tarde fechou o ciclo da caça. Depois um
jantar, enfim um amanhecer e o primeiro beijo. Na noite daquele dia, havia mais
do que rosas na cama de seu apartamento, havia um Moët Chandon com morangos,
Norah Jones no Blu-Ray, e uma vista espetacular da chuva batendo no vidro do
quarto.
O que houve não nos compete, porque o óbvio aqui
não, mesmo que não pareça, não aparece. Pela manhã, a chuva seca. Os sorrisos
se abrem como o tempo, os lençóis de fios egípcios laçam os dois. Café da manhã
de cadeiras juntas. O trabalho dela começa às 11h. Ele a deixa onde sempre
esteve. Ela sai depois de ele abrir a porta. Eles se beijam. Ela o acompanha
sorrindo até o carro. Ela se aproxima dele, inclina-se para mais um beijo. E
antes de sair, ele diz:
- Te ligo.
O eco que viria a seguir era comum. Nada mais do
que isso. Quantidade e qualidade andavam de mãos dadas na vida daquele homem,
realmente a última calipso do mundo.
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