No
bairro, bastava ver o fusca 71 azul para associar à dona Gioconda, que buzinava
sempre duas vezes quando via um conhecido pelos bairros do Ipiranga, onde
nasceu e de onde nunca saiu. Formou-se, casou-se e ganhou netos e bisnetos,
tendo o museu nos fundos do casarão.
Com
Bernardete, uma espécie de enfermeira e governanta, costumava passear pelos
jardins da casa e do museu, diariamente. Querida, porque é difícil ser isso na
família por tanto tempo, tinha o apoio e a atenção de todos.
E
a festa-surpresa estava pronta. Dois dias antes da data, para não levantar
suspeitas. E mesmo que a nona dissesse que a má-sorte também viria de modo
antecipado, teimaram em preferir a novidade ao azar. A casa de um neto seria a
hecatombe.
Convidada
para uma sessão de filmes de Fred Astaire, o que o fazia um dos preferidos da avó,
ela chegou, como sempre, sozinha. O ronco do carro entregava-a. Cerca de 200
pessoas lá, entre amigos e parentes.
Mal
entrou e a luz se acendeu: “FELIZ ANIVESÁRIO!” e logo em seguida a luz se
apagou. Uma pane no bairro deixou quarteirões e mais quarteirões no breu.
Enquanto
todos se mobilizavam, clicando celulares para iluminarem a casa em busca de
velas, ficou aquele gosto de “poatz” – e tiveram de ficar à meia luz, e o pior
é que nem Fred Astaire pôde estar presente, pois, assim como ele, a surpresa
dançou.
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