Maria suava mais pelo medo do que propriamente pelo ato em si. E se aquele que lhe trazia tanta dor não fosse o filho de Deus? A mãe não se importou quando chamou por José e viu o nada, ele nunca estivera ao lado dela mesmo, por que agora? Sara erguera a túnica úmida de Maria até descobrir toda a enorme barriga.
Se o filho seria iluminado, não queria dizer que o parto
também o fosse, mesmo porque a má iluminação do local atrapalhava mãe e
parteira, além dos curiosos, cerca de sete. Nada de anjos cantando ou qualquer
outra distinção que merecesse um messias que vinha ao mundo.
E se a humildade tangia todos os passos que ele pudesse
dar, então aqui não se carecia de se separar o bem do mal, a neutralidade, como
Deus quis deixar o mundo para que a paz se mesclasse ao oposto e o vencesse
aqui também se fazia presente.
Ninguém tinha como saber o que se passa na mente das
mulheres no momento exato em que se tornam mães, talvez pelo único valor desta
ocasião, ninguém pudesse sequer imaginar que a única vontade daquele momento
para quem suava e sofria era pôr fim naquela tortura e naquelas incertezas.
O homem vinha ao mundo da mesma forma que muitos vieram e
viriam. Até então, quem nascia era uma dúvida, nascia uma interrogação que se
modificava com o tempo, talvez o mesmo tempo em que se levava para aprender
coisas, desenvolver o discernimento e formatar sensações, pensamentos e
sentimentos.
Mas voltemos aos berros de Maria, que podia trazer ao
mundo veias que nunca poderíamos imaginar que existiam. O que se sabe é que
José agora estava na porta, apoiado ao batente, vendo que estava para ser pai,
sabe-se lá pai de quem.
Sabia que o serviço era dele, porém não sabia se o que
saía lhe pertencia. A rotina de cerca de 20 minutos seguia a ordem da força, do
pano já úmido e trocado na testa de Maria, no apoio das mulheres a lhe segurar
as mãos. Minutos angustiantes, um parto difícil.
José não mais olhava, perdera o interesse, estava lá
apenas para mera formalidade, de costas, apenas escutava os fatos, pôs-se de
cego, e só veria o que quereria ver, como sempre fez.
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