As
verdadeiras razões nunca saberemos, o que se sabe mesmo era que estava
endividado ao extremo. Não pagava a prestação do carro há dois meses, bem como
o seguro. O mínimo do cartão beirava os 3.500 reais, e o saldo devedor dos dois
bancos já passava de 15 mil reais cada.
Naquela
sexta, o desânimo cobria qualquer promessa de fim de semana, não havia dinheiro
no banco, na carteira. O que lhe restava era o crédito do vale alimentação e os
300 reais que a mãe lhe dera para pagar à mulher do Avon, que ficaria sem eles
ao menos até o fim do mês.
Não
cria num milagre, porque milagres inexistem. Mal se concentrou no trabalho, mal
conversou no almoço e recusou o happy hour.
Saiu do escritório a pé, decidiu caminhar, diziam que andar ajuda a pensar,
quem sabe se o fizesse por 15 km, até em casa, algo brilhante lhe ocorresse.
Pelo
caminho, passou por uma igreja. Por segundos pensou que tivesse pensando que
entraria pra rezar. Mas o que um ateu faria pedindo a Deus. Como pedir algo,
confiar a alguém em quem não se crê?
Seguiu
adiante. Parou num bar. Pediu uma cerveja e uma porção de amendoim, porque
seria menos de 10 reais. E uma mulher de meia idade sentou em sua mesa. Uma
cigana, pedindo para ler a mão. Ele sorriu e disse que se ela soubesse a
realidade, ele deveria pedir ajuda.
-
Mas sou eu que vou te ajudar, anote 98-02-10-12-1
-
Anote – ele puxou do celular - 98-02-10-12-1, o restante é com você... – e sumiu.
Não
podia ser. Por mais cético que fosse. Como podia ser??? Não tinha como ela
saber dos problemas financeiros do rapaz. Mas ela deu cinco números. Mesmo que
a Mega-Sena trouxesse seis. Mas, se o restante era com ele, ao menos, a quina
estaria garantida.
O sorteio correria no dia seguinte. 80 milhões de reais. Mesmo que não acertasse
os seis, que viessem uns 100 mil, sua vida estaria refeita. E só precisaria de
um jogo. Sorriu e não creu que creu nela.
Saiu de lá e conseguiu, por causa da procura, uma casa lotérica aberta. Encarou uma hora de fila por um único jogo. Não podia ser. Contas pagas, tranquilidade de volta.
Sorteio.
Primeira bola: 98. Não podia ser! Segunda bola: 02. Sentou, porque em pé cairia
e bateria com a cabeça. Terceira bola: 54. Mais duas, e a quina seria dele.
Quarta bola: 22. Quinta bola: 34. Sexta bola: 04.
Queria
se matar. Não por não ter acertado, por ter acreditado naquela mulher. Por ser
o cético mais imbecil do mundo. Fez questão de olhar de novo os números do
celular e os que anotou. Batiam. Apertou sem querer o ligar e desligou imediatamente.
Segundos
depois, o celular tocou. Ele olhou e eram os mesmo números, sentou incrédulo
enquanto dizia alô:
-
Alô? Você ligou para mim. É consulta? Quer que eu leia a sua mão?
Nem preciso dizer o que essa história me fez recordar, né? rsrsrsrsrs
ResponderExcluirkkkk - Verdade! Sim, Dri, mas você pode, porque você não é espírita! - rs
ResponderExcluir