quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

LINNUS PAULING E A QUÍMICA DO PAULISTÃO

Em 1989, começava a ganhar algum dinheiro com trabalhos datilografados. Isso mesmo, a velha máquina de escrever, presente de minha madrinha para textos futuros, finalmente ganhava vida.

Nunca fiz um curso, mas meu cata-milho era eficiente.

Tão recomendado que meu irmão mais velho começou encomendar serviços a ele, que trabalhava o dia todo e cursava a faculdade à noite.

Uma ótima. Foram incontáveis lanches e mimos que consegui ao longo das linhas barulhentas.

Não conseguiria detalhar cada um deles, porém a ausência de algo se torna inesquecível.

Meu poder de negociação, barganha era e é algo notório. Um exemplo de fracasso. Ainda hoje quero crer que me perdi mais por ingenuidade do que a maquiavélica ação do primogênito.

Naquela época, o Palmeiras montava um time finalmente competitivo. Neto, Dario Pereyra, Velloso e Edu Manga elevavam a condição de mediano para candidato a voos maiores.

Naquele semestre, Marcelo Paciello trouxe um trabalho gigantesco para ser datilografado e uma proposta: meu pagamento seria em ingressos. Todo jogo ele me pagaria a entrada.

Todo domingo, sendo em São Paulo, estávamos no campo. Minha vida se resumia literalmente à escola pela manhã, cursava o segundo ano do ensino médio – datilografia à tarde e parte da noite e os jogos aos domingos, ao menos dois por mês.

Como o dinheiro provavelmente iria aos jogos, achei razoável e justa a proposta.

Porém, quem é palmeirense sabe que não se pode envolver o time com seu dinheiro. O tão embalado grupo foi eliminado perto das finais. Sendo mais específico, ainda faltavam uns dois meses de textos a serem datilografados.

Não sei se por raiva, ódio, a fúria do mais velho sobrou para mim. O ajuste era claro, páginas de trabalho igual a jogos. Se não havia jogos, não haveria mais nada. Fiquei lendo, de bolsos vazios, e digitando as linhas da química não entendo a lógica geminiana.

Enfim, ainda hoje, meu time continua a me deixar na mão, mas o ingresso de despedida do jogo do Marcos - no dia 12 de dezembro passado - foi meu irmão quem pagou. E ninguém me tira da cabeça que tenha sido uma retratação dele, 23 anos depois.

 

 

3 comentários:

  1. Com um sentimento maquiavélico dentro do meu ser, reconheço que o texto acima publicado é a mais pura verdade.

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  2. Eu sei, Bense, muito bem! Olho piscando... - rs

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  3. hahahahahahahahahahahaahahaha! ADOREI!

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