Não lhe interessava se a esposa estava sofrendo, Deus deu às mulheres o dom da maternidade, então que sofram, pois os homens não poderiam fazê-lo por elas.
Ele, o carpinteiro, que pertencia às madeiras estava
entregue demais à serragem, nada sabia de sangue e agora estava cego, mas não
surdo, para ouvir o que acabava de ouvir.
Escutar o choro do menino, que nascia e trazia o sorriso
de todos no quarto. Por um instante, tudo emudecera. A cena lhe chegava sem
áudio algum, apenas a ensurdecedora visão de que estava fora de tudo ali.
Sentiu-se estranho, como apenas uma gota de azeite em
água. Inerte a tudo.
Não sabia se fugia, se chegava mais perto da cama, pois
os curiosos tampavam a cena, que agora se apagava de sua vista. Não sabia o que
fazer. Decidiu deixar a cena para todos que dela quisessem tirar proveito.
De repente, tudo o que havia pensado, tudo o que havia passado
estava para trás, não mais lhe doía no ego masculino. Ora, e até mesmo a criança
tinha o semblante do pai, mesmo que ninguém mais houvesse sentido ou notado.
Mas ele sim, aquele era o filho dele e de Maria.
E já que Deus não estava presente para reconhecer o
próprio filho, e já que Maria o estendia para o verdadeiro pai, o carpinteiro
caminhou até ela, e com o cuidado que nunca teve, tentou pegar o menino.
Desajeitado, segurou-o firmemente e sorriu para o garoto, que lhe devolveu o
gracejo, mesmo que todos na sala vissem que o menino chorava.
E berrava para os céus ouvirem: “Meu filho!”. Era a resposta
que tinha de dar a Deus. Enfim, a resposta depois de tantos pensamentos e de
tantas angústias.
E não conseguiu ver os olhos de Deus, mas sabia que, onde
quer que Ele estivesse, teria escutado a voz de um pai a mais no mundo. Que
aquele luar iluminava uma criança frágil, como todas são.
Iluminava um homem cheio de defeitos, como todos neste
mundo. Iluminava o futuro, como o mundo paria um a cada hora. Iluminava a vida.
E José virou-se para dentro e ninguém naquele quarto viu
a estrela cadente que passara rápido por ali, somente por ali.
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