domingo, 2 de dezembro de 2012

O DIA QUE JOGUEI A LIBERTADORES DA AMÉRICA

Serginho Fraldinha,
no Palmeiras em 1990
Em 1982, por influência do meu irmão gêmeo, excelente zagueiro, tornei-me jogador federado de futebol de salão. O talento do Luciano era visível, e não me incomodava de ser o irmão dele. Ficava na reserva, tínhamos a mesma posição praticamente, foram raras as vezes que entrei em um jogo.

Um ano depois, já mais propenso a seguir pela música, dividíamos a zaga titular de um pequeno clube do Tatuapé, o Milionários. Os jogos eram às sextas-feiras e não posso dizer que era algo empolgante.

Mas houve um jogo contra o Corinthians. Éramos do Mirim e o time deles era ótimo. E tinha um linha de ataque excelente, na qual um moleque, arisco, franzino e talentoso se destacava dos demais.

Serginho Fraldinha, era o apelido dele, o tamanho e a categoria pela qual se destacou faziam dessa lenda o terror dos zagueiros.

Naquele dia de 1983, a quadra estava lotada. Nosso uniforme preto e amarelo nunca esteve tão reluzente. E caberia a mim marcar o demônio. Lembro ainda de pedir ao técnico se ao Paciello talentoso não seria melhor a função.

Mas meu irmão era uma espécie de líbero, excelente na defesa e muito útil no ataque. “Siga onde aquele moleque for, Adriano, se ele for ao banheiro, dê a descarga” – disse o técnico.

Os Paciellos, que de italianos e de palmeirenses só faltava o turbante, entraram na quadra com os olhos vidrados. E aquele gravetinho loiro já entrava em meu olhar. Torcida fazendo um barulho do inferno.

E Serginho Fraldinha era o cão. Ágil demais, acompanhar o desgraçado era como tentar pegar um frango. Habilidoso  e muito rápido, mas também tinha lá seus truques. Na primeira bola comigo, usou o cotovelo no meu peito. Falta. Nada.

Reclamei e meu técnico me pediu silêncio e fôlego. Segunda e terceira bolas, segunda e terceira cotoveladas. A tensão começou a se transformar em raiva. “Lu, eu vou matar esse filho da puta”, disse ao gêmeo, que me pediu calma, porque eu estava entrando no jogo dele.

Quarta bola, cotovelo. Quinta bola, cotovelo. E foi assim com a sexta e a próxima.

Já babando de raiva, não mais escutei meu irmão, o técnico o qualquer outra coisa. Até meu pai e meu irmão mais velho, da torcida, me pediam calma. Mas o juiz não via o cotovelo daquele moleque.

Cego de ira, afastei a marcação, deixei que ele dominasse a bola e viesse ao meu encontro. E foi o que aconteceu. Ele jogou abola para o lado, que passou lisa, mas ele não. Um senhor chute de direita, e levantei o meleque do chão, que caiu berrando.

Mal tive de tempo de olhar para ele e rir, e vi o cartão vermelho na mão do juiz. Fui expulso. O técnico do Corinthians retirou o time de campo e eu, literalmente, acabei com o jogo e com a minha carreira.

Não foi um lance para meu pai gritar da torcida, “Olha lá, é o meu garoto!” – Mas se pudesse voltar no tempo, eu o teria chutado de novo e pisado no tornozelo dele.

Maldoso, eu? Nada, na Libertadores é assim que se joga!  

P.S.: em 1990, como jogador profissional, Serginho foi para o Palmeiras, e numa bola perdida, meus irmãos me incentivaram a correr ao alambrado e dizer que eu o encontraria de novo!

 

 

Um comentário:

  1. “Siga onde aquele moleque for, Adriano, se ele for ao banheiro, dê a descarga” - HAHAHAHAHAHA! RISOS ETERNOS!

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