Serginho Fraldinha, no Palmeiras em 1990 |
Um
ano depois, já mais propenso a seguir pela música, dividíamos a zaga titular de
um pequeno clube do Tatuapé, o Milionários. Os jogos eram às sextas-feiras e
não posso dizer que era algo empolgante.
Mas
houve um jogo contra o Corinthians. Éramos do Mirim e o time deles era ótimo. E
tinha um linha de ataque excelente, na qual um moleque, arisco, franzino e
talentoso se destacava dos demais.
Serginho
Fraldinha, era o apelido dele, o tamanho e a categoria pela qual se destacou
faziam dessa lenda o terror dos zagueiros.
Naquele
dia de 1983, a quadra estava lotada. Nosso uniforme preto e amarelo nunca
esteve tão reluzente. E caberia a mim marcar o demônio. Lembro ainda de pedir
ao técnico se ao Paciello talentoso não seria melhor a função.
Mas
meu irmão era uma espécie de líbero, excelente na defesa e muito útil no
ataque. “Siga onde aquele moleque for, Adriano, se ele for ao banheiro, dê a
descarga” – disse o técnico.
Os
Paciellos, que de italianos e de palmeirenses só faltava o turbante, entraram
na quadra com os olhos vidrados. E aquele gravetinho loiro já entrava em meu
olhar. Torcida fazendo um barulho do inferno.
E
Serginho Fraldinha era o cão. Ágil demais, acompanhar o desgraçado era como
tentar pegar um frango. Habilidoso e
muito rápido, mas também tinha lá seus truques. Na primeira bola comigo, usou o
cotovelo no meu peito. Falta. Nada.
Reclamei
e meu técnico me pediu silêncio e fôlego. Segunda e terceira bolas, segunda e
terceira cotoveladas. A tensão começou a se transformar em raiva. “Lu, eu vou
matar esse filho da puta”, disse ao gêmeo, que me pediu calma, porque eu estava
entrando no jogo dele.
Quarta
bola, cotovelo. Quinta bola, cotovelo. E foi assim com a sexta e a próxima.
Já babando de raiva, não mais escutei meu irmão, o técnico o qualquer outra coisa. Até meu pai e meu irmão mais velho, da torcida, me pediam calma. Mas o juiz não via o cotovelo daquele moleque.
Cego
de ira, afastei a marcação, deixei que ele dominasse a bola e viesse ao meu
encontro. E foi o que aconteceu. Ele jogou abola para o lado, que passou lisa,
mas ele não. Um senhor chute de direita, e levantei o meleque do chão, que caiu
berrando.
Mal
tive de tempo de olhar para ele e rir, e vi o cartão vermelho na mão do juiz.
Fui expulso. O técnico do Corinthians retirou o time de campo e eu,
literalmente, acabei com o jogo e com a minha carreira.
Não
foi um lance para meu pai gritar da torcida, “Olha lá, é o meu garoto!” – Mas se
pudesse voltar no tempo, eu o teria chutado de novo e pisado no tornozelo dele.
Maldoso,
eu? Nada, na Libertadores é assim que se joga!
P.S.: em 1990, como
jogador profissional, Serginho foi para o Palmeiras, e numa bola perdida, meus irmãos me
incentivaram a correr ao alambrado e dizer que eu o encontraria de novo!
“Siga onde aquele moleque for, Adriano, se ele for ao banheiro, dê a descarga” - HAHAHAHAHAHA! RISOS ETERNOS!
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