Mas
como não bebo (adoro frases ambíguas) – qualquer coisa que endosse tal análise
simbolizaria algo puramente chato. Daqueles momentos em que a pessoa começa a
usar filosofias piegas e a falsa sensação de inteligência, uma espécie de Freud
que come milho num potinho de plástico esperando o lotação.
Enfim,
tudo isso pra falar que vou ter de fazer uma análise do meu ano, sem cerveja,
de modo cru e direto.
Sofri
mais do que queria, me surpreendi menos que devia, ganhei mais do que pedi e
ainda assim me achei injustiçado. Sim, porque não posso falar que tive, nesses
quase 40 anos de vida, um ano inesquecível.
Fato
é que o adjetivo inesquecível sempre se liga a coisas boas, mas não. Todo ano
traz a sua carga positiva ou não. Posso assim dizer que existe um equilíbrio.
Os 365 dias são milimetricamente calculados para o bem e para o mal, já que o
normal acaba predominando.
Se
retirássemos os dias comuns de nossos anos, talvez teríamos semanas ou num
máximo um mês de acontecimentos bons e ruins.
No
campo profissional, considero-me vencedor, fazer o que se ama e ainda ser
remunerado pode-se dizer que acaba sendo uma vitória e daquelas de goleada,
decidida aos 30 do primeiro tempo, sem sofrimento.
Já
no pessoal, acho pessoal demais opinar.
Desta
forma, chega-se à seguinte conclusão, viver é bom. Alimentar os dias cinzentos
(usei isso por preferir o cinza ao sol) é que me cabe agora. Esquecer as horas
mais doloridas e sofridas não é uma tarefa nem se deve colocar no colo do
tempo, é um talento de poucos.
E
como os talentos nesse mundo estão à míngua, calo-me resignado, esperando
reclamar de qualquer outra coisa que me ocupem as lágrimas.
O
que me salva é essa limonada suíça, com muito gelo e açúcar.