Não escrevo o último texto de 2013 com a
chata e batida pretensão de mostrar como foram os dias de minha vida nos
últimos 12 meses. Fato é que existem dias que gostaríamos que voltassem outros
que tentamos esquecer, mas não conseguimos justamente por tentar isso ou
aqueles que realmente voaram de nossa mente e pararam em um meio-fio qualquer.
Uma curiosidade que não deveria deixar passar
veio da última frase do último texto do meu blog em 2012: “... e que te levem a
qualquer esquina de Paris”. Foi isso que desejei ao mundo e a mim mesmo.
E há 15 dias, cada vez que cruzava uma
esquina por lá, era essa frase que ressoava em minha mente. E foi dentro de uma
brasserie, numa esquina qualquer, não de uma capital qualquer, que provava o
melhor morango do mundo.
Sim, quando mordi aquela torta, pensei que o
sabor da fruta me era de domínio há décadas. Não. Não era. E foi nessa esquina
que fechei os olhos e senti o mais doce dos sabores que já senti em toda minha
vida. Paciente e deliciosamente, saboreei os exatos 8 morangos – sim, eu contei
– daquele doce, de olhos fechados.
E cada vez que eu os engolia, eu abria minha visão
pra ver aquele lugar colorido e aquele frio negativo que batia na catedral de
Notre Dame e voltava à movimentada rua ao lado.
Atordoado com a cidade e com o sabor,
intriguei-me em pensar que só deveria ser naquele doce. Sim, uma espécie de
açúcar refinado ou algo assim que só o velho mundo deveria ter. Na volta de um
dos passeios, perto do apartamento em que fiquei, havia uma frutaria. Entrei e
comprei uma caixa de morangos.
Lavei-os delicadamente e os provaria.
Confesso que não sabia se torcia para terem o mesmo sabor, a mesma doçura que o
da brasserie, ou se não os provava para decididamente não apagar aquele sabor,
com aquela visão e com a alegria que cantou em meu peito.
“Pros diabos”, pensei – que seja o que é. E
era, e é. A mesma doçura estava em minhas mãos e dentre os demais daquela
caixa. Não sei por quanto tempo fiquei em pé, na cozinha, saboreando e vendo a
mesma música e escutando as mesmas cores que tardes passadas. Único.
Ao voltar para o Brasil, dentre todo o clichê
que é com o choque do primeiro com o terceiro mundo, temi ter a certeza de não
pertencer ao lugar onde nasci.
Minha mãe havia preparado uma refeição e, em pleno dezembro, encontrado morangos para mim. Sorri ao ter a certeza de que aquela doçura ficou no velho mundo. Nem tinha me livrado das roupas de inverno aqui no calor tropical, fui direto a eles, peguei um e disse a ela: “O sabor disso aqui lá é algo sem igual”.
Mordi e percebi que o sabor era o mesmo. Sim.
Por alguns momentos, eu estava em Paris mais uma vez. Algo mudou e hoje percebo
que uma viagem não traz somente uma cultura diferente, uma experiência nova.
Trouxe uma nova pessoa.
Não sei qual foi o exato momento dessa
mudança, mas garanto que existem coisas definitivas em nossas vidas, tão doces
e saborosas como os morangos de Notre Dame.