Pode-se chamar de ritual, se olharmos a vida das 16 pessoas envolvidas, podemos resumir assim: preparar o almoço, arrumar a mesa, varrer a frente, preparar as crianças e seguir para a velha casa no bairro decadente.
Cumprimentar os vizinhos, sorrir, porque se sorri todo domingo a quem estiver por ali. Ver o mesmo pipoqueiro na mesma esquina da mesma rua da mesma casa. Parar na mesma ordem de chegada os carros. E olha que já era uma revolução se alguém burlasse o protocolo.
Os assuntos variavam porque alguém no mundo tinha de mudar o rumo das coisas. Mas fosse como fosse. Domingo era sempre assim e assim foi por 10 anos seguidos até a morte do avô, que aconteceu numa sexta, o que não impediu de o almoço acontecer dois dias depois.
Anos depois, foi a vez da avó, estopim de toda a comilança dominical, pegar um itinerário diferente. Não se atentaram, mas pararam naquela manhã em frente da casa fechada. Não havia almoço nem calçada limpa e talvez até o pipoqueiro tivesse se perdido ao longo desse período.
E cada família decidiu tomar caminho contrário. Os da zona sul seguiram pra lá e os da zona norte nortearam, quem tinha de ficar no centro ficou e quem não também sumiu de lá. E já que um novo ritual se formou, assim se fez. Foi a última vez que se viram ou se falaram e perceberam que só se relacionaram porque nunca se perguntaram o motivo.
Mas parece que dois dos casais se encontraram numa fila de cinema, e se realmente fossem eles, não haveria assunto, porque o pipoqueiro - que na esquina ficava há 20 anos - não era o mesmo que estava por ali.
Nenhum comentário:
Postar um comentário