Pela
secretária, soube que era o preferido, e que se na apresentação fosse tudo bem,
75% a mais no salário e um cargo de confiança há muito merecido. Na
quinta-feira, sentiu calafrios, um arrepio nervoso e uma irritação na garganta.
Na
sexta pela manhã, estava fanho, a voz quase não saía. Comprou um analgésico e
tocou a cara em vitaminas C. Não tinha como ficar doente, não agora. O chefe
olhou para o rosto dele:
-
A apresentação está pronta?
Ele
assentiu com a cabeça.
-
Então suma daqui, quero você ótimo para segunda-feira!
A
febre cedeu. Mas a garganta estava estragada, o nariz entupido. Sentia-se
melhor no sábado. Ainda assim não estava 100%. Domingo pela manhã, sim, era
outro, decidiu caminhar e foi na volta que teve a reviravolta.
Após
o almoço, olhos, testa e nariz queimavam: sinusite. A nuca doendo, a cabeça estourando.
E a ansiedade do rapaz nas alturas. Eram 15h, e havia pouco tempo à
apresentação.
A
esposa seguiu desesperada à farmácia, trouxe dois remédios, que foram
devorados. Para a dor na nuca, tomou mais um e mais duas doses de um outro para
a dor de cabeça.
4
horas depois, era outro. O mundo conspirava para a sua promoção. Teve medo de
se sentir bem naquele momento apenas e de, dali 12 horas, tudo voltar. Não
podia transpor o horário dos medicamentos.
Achou
que aquilo pudesse ser uma crise de ansiedade. Sim. Só podia ser, muita
pressão, a promoção que tanto desejava. Sabia que a esposa tomava uns tarjas
pretas e foi revirar o armário do banheiro.
Pegou
logo uns dois e os meteu pra baixo. Tudo daria certo. Eram 8h30, e nada do
cara. 9h, 10h. E a reunião passou. Lázaro só levantou às 11h30. Com o pior gosto
do fracasso na boca, mas com a melhor noite de sono da sua vida.
Ele
pediu demissão no dia seguinte, porque desde sua entrada nessa empresa, nunca
havia tido uma noite de sono tão maravilhosa como aquela. O rapaz se arrependeria
dias depois, quando o efeito do Lexotan sumira. Mas o chefe não responde às
suas ligações.
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