E
a mãe sabia tudo das linhas das mãos. Sabia falar o que todos queriam ouvir.
Era observadora. Se via aliança na mão direita, casamento próximo. Se a aliança
estava na esquerda, relação estável. Se havia uma marca de uma aliança que
pousou por lá: um breve recomeço.
E
assim, ela conseguia levar tudo. Em janeiro no litoral norte de São Paulo, e em
junho e julho, em Campos do Jordão. E foi na Suíça brasileira que estavam
agora. A caçula, de apenas 6 anos, era promissora.
Além
de herdar o DNA feminino, tinha o talento da mãe. Observadora, vendedora,
encantadora. Seria a primeira tentativa de ganhar clientes. Os longos cabelos
encaracolados e os olhos fundos e negros prenderiam facilmente qualquer um.
-
Nada de doces ou chocolates. Leitura são 5 reais, das duas mãos, dez, entendeu?
Assim
que concordou, misturou-se entre todos e se encantou com as botas de couro daquela
mulher. A mãe vivia dizendo que quanto mais couro, mais dinheiro. Ela ficou
alguns minutos olhando para aquela loira, que em breve viraria para a
menininha.
E
assim o fez. A garota sorriu um sorriso revigorante, convidativo. A garota fez
um gesto de ler as mãos e pendeu o sorriso para a esquerda. A mulher caiu e a
chamou. A pequena se aproximou sorrindo, tomou a mão da moça e fora certeira:
-
Um grande amor na sua vida, um homem bom, que te ama, fiel. Um casamento em
breve, vejo filhos saudáveis e uma caneca de chocolate quente na minha mão.
E todos caíram na gargalhada. A menina ganhava o mundo. E assim, além dos dez
reais, teve a promissora caneca quente nas mãos. E pelo anel de brilhante da
loira - entre um gole e outro de chocolate - gabou-se de ter feito a escolha
certa. Mas isso só depois que a cliente havia retirado as luvas de couro.
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