O
jogo não era lá decisivo, mas o time da casa estava ganhando por 1 a 0, os
pontos os colocariam em primeiro na tabela. Sábado quente, noite promissora. E
todos que amam futebol sabem quão delicioso é curtir uma noite de sábado dormindo
líder e sabendo que nenhum resultado do dia seguinte influenciará nas
classificações.
Aos
42 minutos do segundo tempo, a falta foi indiscutível. O atacante entrou na área
e o zagueirão, atrasado, entrou de carrinho, levando grama, a cal e a perna do
cara. Talvez tenha sido o calor, talvez tenha sido a exaustão ou o fato,
ninguém reclamou. Só restou ao adversário comemorar e aos da casa ficarem de
mãos na cintura.
Via-se
o derreter do clima ao longe. Os sorvetes tinham acabado, as bebidas também,
torcedores do estádio todo só fizeram esperar. Tensão. Bola na marca, juiz apita
e o goleiro defende.
Êxtase.
A arquibancada vem abaixo. Mas a invasão coloca de novo a falta a ser cobrada.
Dessa vez nem o calor impediu coisa alguma, empurra-empurra, confusão, mais de
cinco minutos de burburinho. Juiz pra lá, juiz pra cá. E mais uma vez a
cobrança seria feita.
Juiz
apita. E mais uma vez o goleiro defende. Pênalti defendido é como um gol ao
contrário. Êxtase. E não é que os colhões daquele árbitro eram de ferro.
Invasão de novo, cobrança anulada, e dessa vez até a polícia teve de intervir.
O alambrado era quase mordido. Fúria. Olhos vidrados, uma baderna instaurada.
Um caos.
Mais
confusão. Os olhos a um simples jogo já arrecadavam o mundo. Internet, redes
sociais, imprensa. E o pior era que a regra era clara. Respeitá-las no futebol
pode ser um inferno e foi. Quando a displicência impera, a seriedade tem um
adversário quase que instransponível.
Guerra,
socos, três expulsões e 20 minutos depois, pela terceira vez, o pênalti seria
batido. Com 8 jogadores, e faltando ainda os 3 minutos para o término, se o
time tomasse o gol, seria uma retranca absurda para não tomar a virada.
Ânimos
menos exaltados. Atacante esperando. Bola nas mãos do goleiro, que se dirige à marca da cal. E o improvável
acontece. Antes de dar a bola ao atacante, como num tiro de meta, ele mira e, num potente chute, a acerta no rosto do juiz, que cai desmaiado. Se a
quarta cobrança foi feita, nunca saberemos, mas fica a filosofia do número 1 ao
ver o alvo nocauteado:
- Anula o próximo também, filho da puta!
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