Um
vizinho meu apareceu com uma raquete de madeira, à John Mcenroe, e duas
bolinhas. Não me lembro como, mas uma segunda raquete estava por ali. A velha
rede de vôlei foi desenterrada e posta rente ao chão.
Riscamos
a rua com tijolo, tal qual nos dias de “contra” no futebol. E o primeiro saque
foi dado. Lembro que quando consegui rebater a bolinha foi uma adrenalina
única. Uma espécie de endorfina com fogo. Os olhos vidraram e os jogos
começaram a ser mais comuns.
Aos
sábados domingos, os marmanjos da rua, já com suas namoradas já se tornavam
menos presentes, o que deixava aos dois e a quem mais por lá estivesse dividir
raquetadas e risadas. Porém a competição começava a ficar menos engraçada. E os
jogos mais longos.
Um
amigo de faculdade do meu irmão, certa vez apareceu aqui e viu o jogo, amou
participar. Sócio da Portuguesa, disse que podíamos jogar lá. Não éramos
sócios, e o bizarro tinha de ser feito. Entrávamos escondidos no porta-malas,
todas as noites de terça-feira. Fizemos duplas, amigos e por lá ficávamos.
4
meses depois, apareceu um campeonato interno de duplas. A essa altura, as
raquetes eram melhores, a agilidade de amadores estava fora. Os saques eram mais
certeiros e potentes. Não éramos mais duplas comuns. Os olhos sempre estavam em
nós. Quem diria, um adolescente suburbano num esporte de elite e se destacando.
Campeonato.
Sábado. Graças à falta de organização do clube e à nossa sorte, conseguimos nos
inscrever. Jogo às 13h, novembro de 1991. Sol forte. Eu e meu parceiro mais do
que preparados. Uniformes novos, Gatorades nas mochilas e a confiança de um bom
jogo.
A
dupla adversária não era de nosso meio, treinava durante as tardes, então não
a conhecíamos. Os cabelos brancos nos deixaram mais animados. Uns 50 anos cada
um, não poderiam meter medo num garoto de 18 e no outro de 17. Cumprimentamo-nos.
Plateia boa. Os parceiros das terças à noite estavam lá, incentivando. Saque
nosso. Ace. E três bolas depois, um set a zero.
Saque
deles, 4 aces, e o relato termina aqui. Foi um baile. Talvez tenha sido o
calor, talvez tenha sido o nervosismo. Talvez tenha sido sorte. Mas sei que
naquele dia eu saí com uma dúvida, não sei o que foi pior: se a surra que
tomamos no jogo ou ter de sair fedido e cansado dentro do porta-malas daquele Fiat
Prêmio branco.
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