Ninguém se engrandece, quando se nasce grande, grande se é. A nobreza está no DNA, não se adquire com o tempo, acentua-se como natureza.
Quando não se precisa acentuar o próprio nome ou os próprios feitos, pede-se também que os nomes dos envolvidos sejam preservados. Fato é que o rapaz de Agudos, interior de São Paulo, veio para a capital com o mesmo sonho de todos, vencer.
Entre tantas pedras e enganos, viu-se como motorista de taxi, sem um carro próprio, era apenas quem levava passageiros e a menor parte no fim do dia, como muitos daquela região. Pode-se dizer que os sorrisos também povoam as poucas rendas.
O grande diferencial é que, quando se nasce grande, coisas poucas berram, e a natureza segue seu caminho. O homem estava decidido a mudar o itinerário e virou na esquina, à esquerda, dos livros e dos estudos.
Não nos cabe aqui saber quantas linhas cruzaram seus olhos, talvez muito mais que os faróis e ruas do taxi alheio, e começou sua contribuição ao funcionalismo público, sendo agente penitenciário. Mas as grades do local não prenderam o nobre.
Anos depois, com o curso de Direito, não se prendeu às leis ou apenas a clientes, deixou-se conduzir a delegado da Polícia Civil e ainda assim não se podia ficar preso a isso. Virou mais algumas páginas e agora se vê como promotor público.
Nunca mais soube o que foi contar as economias ou suspirar com o dia primeiro de cada mês, porém a mesma sombra imensa, o conduzia a grandezas naturais. O hábito de pegar o transporte público não o abandonara.
E foi numa dessas andanças que, num ônibus, muitos anos depois, encontrou com um colega taxista, dos tempos dos carros alheios. Agora, orgulhoso, o homem era motorista de ônibus. Estava cheio, e mais cheio ficou quando contou a história de sua ascensão profissional ao ilustre passageiro.
Relatou cada detalhe dos tempos magros e dos atuais. Gabou-se de ter uma renda fixa, de poder dar à família algo mais equilibrado, de finalmente ter vencido nessa vida. Os olhos brilhantes ainda brilhavam quando perguntou ao colega qual era a sua atual profissão.
O servidor não titubeou, encheu o peito e disse que continuava ainda a guiar para os outros e parabenizou o motorista pela satisfação da conquista. E ainda via os olhos brilhando do motorista, quando desceu no ponto e seguiu ao fórum João Mendes.
O promotor se misturou a tantos outros anônimos, não se via diferença entre os vários com passos apressados, sonhos na cabeça e vitórias nos ombros. A diferença era o sorriso, ninguém poderia notar o sorriso terno e gratificante daquele senhor, feliz por ver a alegria alheia passar livre, como um carro solitário durante uma madrugada fria em São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário