Pela
devoção ao time, ansiando – quem sabe – um pensamento louco, trabalhar com os
jogadores. Formou-se em fisioterapia. Fez mestrado e conseguiu uma vaga num
clube menor. E quis o destino que seu nome crescesse entre os do futebol.
Recuperou
vários num método revolucionário. Logo, um amigo, vizinho de um cunhado de um
atacante de renome, indicou-o para tratamento. Tudo bem que o atleta era do
time rival, isso não vem ao caso, porque a profissão não escolhe o amor, senão
o inverso.
Não
só tratou o rapaz, como o recuperou, o que, quase que num relâmpago, o colocou
como o responsável da agremiação. Sim, era pago e muito bem reconhecido, para
tratar dos inimigos. E fazia com maestria. Ganhou respeito, fez amigos, era
querido e se viu contagiado pelo ambiente.
Quis
também a vida que colocasse os dois rivais numa final. Ninguém conhecia as
cores que defendia o doutor, porém soube que, pela primeira vez. O meia do time
estava num tratamento forte, durante toda a semana, para entrar em campo. Quase
não dormiram para colocá-lo às ordens.
A
equipe toda confiava no rapaz, que era um Merlin da fisioterapia. Semana tensa,
ele se dividia entre o trabalho e a cruel bifurcação entre o amor antigo e o
atual. Nunca pensou como lidar com aquilo, não sabia lidar com aquilo.
Ao
entrar em campo, e passar pelo banco do time de coração, foi hostilizado pelos
atletas e pelo técnico.Não entendeu. Mas compreendeu que era um elogio.
O
meia estava escalado, poderia se sentir um traidor, e não. Estranhou não
desejar estar na arquibancada entre os muitos que reconheceu por ali.
Ao jogo. Tenso, faltas, discussões. O zagueiro tentou por várias vezes voltar com o recuperado para o banco. Caçou o rapaz em campo, despertando um sentimento revoltoso. Entretanto o trabalho foi benfeito, e a lesão não voltaria.
Não
voltou e se reverteu numa coroação. Aos 16 do segundo tempo, numa arrancada e
numa explosão impressionantes, ele levou meio time e colou o ponto final
naquela tarde. Mentiria se não vibrasse com o próprio trabalho. E o jogo
acabava. A família dele saindo calada, ele sendo ovacionado.
Depois
da festa, decidiu passar na casa do pai. Parou o carro, tocou a campainha. A
mãe abriu, ele entrou. O pai o olhou, sorriu, abraçou-o e disse:
-
Que belo advogado você teria sido...
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